Você já ouviu uma sinfonia de Mozart ou Beethoven executada por uma grande orquestra? É difícil acreditar que tantos instrumentos, tocados por vários músicos, em ritmos e notas diferentes, consigam se harmonizar de forma tão arrebatadora. Um espetáculo semelhante a esse, de enorme perfeição e sincronia, acontece dentro do seu cérebro todos os dias de sua vida, desde que você nasceu. E, da mesma forma que você não precisa conhecer o funcionamento de uma orquestra para apreciar a sua música, também não precisa compreender o seu funcionamento cerebral para usufruir de suas capacidades.
As semelhanças entre o funcionamento do seu cérebro e uma orquestra são enormes, apesar de seu sistema nervoso ser infinitamente mais complexo. Para que você possa entender onde quero chegar, preciso falar um pouco sobre Neurociências e sobre a estrutura de uma orquestra.
A Neurociência é o estudo científico do cérebro e do sistema nervoso. Somente no final do século XX essa ciência começou a ganhar força, a partir do desenvolvimento de tecnologias que permitiu ver o cérebro em ação. Com aparelhos, como a ressonância magnética funcional, foi possível observar a relação entre a atividade dos neurônios e funções psíquicas como as nossas emoções, comportamentos e pensamentos.
A orquestra é formada por um conjunto de músicos, que são dispostos em semicírculos ao redor do maestro. O lugar de cada músico é determinado pelo instrumento que ele toca, sendo que os instrumentos de corda ficam na frente do palco, os de sopro ao meio e os de percussão ficam atrás. Para que a música que você ouve soe perfeita é preciso que todos os músicos executem bem sua função, de forma precisa e sem erros. Quando todos os músicos tocam bem, cada qual seguindo sua partitura, tudo funciona bem.
Assim acontece em nosso cérebro, onde todos os neurônios têm que funcionar bem e em harmonia. Os neurônios são as células que conduzem os estímulos nervosos e são os trabalhadores incansáveis do seu cérebro. Eles equivalem aos músicos, mas são tão numerosos quanto as estrelas do Sistema Solar! Temos aproximadamente 100 bilhões de neurônios, e cada um deles liga-se a outros 10.000 neurônios, criando um total de 10 milhões de bilhões de conexões. Essa imensa rede de conexões neuronais transmite todas as informações necessárias para nossa sobrevivência.
Agora pense em como essa rede inacreditável de neurônios se organiza. Assim como na orquestra, as células nervosas foram se desenvolvendo e adquirindo funções especializadas, como funções motoras, visuais, sensitivas, olfativas, entre outras. A especialização de um neurônio é essencial para a nossa sobrevivência pois, executando apenas uma ação, ele se torna mais competente. É como um músico, que ao se dedicar apenas a um instrumento, fica expert nele. Esse é um segredo do funcionamento do seu cérebro: quanto mais você repete uma tarefa, mais fácil e automática ela fica.
Mas não basta treinar bastante, ser um ótimo musicista e só aprender a tocar apenas uma música. Com certeza, a música seria executada com perfeição, porém sem o estímulo de novos aprendizados e desafios, logo toda orquestra ficaria entediada e desmotivada. E é exatamente isso que acontece com seus neurônios quando praticam sempre a mesma ação! O seu cérebro é sedento de aprendizagem e precisa ser desafiado com novas experiências, em qualquer idade e época da vida. Aprender, seja o que for, de uma forma continuada, é o segredo da longevidade cerebral.
Por fim, eu não poderia deixar de falar do maestro, que é o regente de todos os músicos e cujos movimentos, mesmo que incompreensíveis pela maioria das pessoas, transforma sons de múltiplos timbres e ritmos em alimento para nossos ouvidos e alma. Apesar de não tocar nenhum instrumento, é a condução e a interpretação do maestro que faz a música soar harmônica e ter uma identidade.
E o maestro do seu cérebro, será que existe? E se existir, onde está? Aqui, meu prezado leitor, a ciência ainda não tem resposta.
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