Alguma vez pensou que algo que buscamos tanto, como a felicidade, pode ter um lado menos bom?
A felicidade, um estado emocional que proporciona emoções e sentimentos agradáveis, tem o seu objetivo e função, tal como as emoções desagradáveis. No entanto, todas as emoções são flutuantes, vão e vêm, conforme a sua necessidade, como resposta a estímulos, experiências que nos vão acontecendo.
No artigo citado abaixo, os autores (Gruber, Mauss e Tamir) focam-se em quatro aspetos para analisar o lado menos bom da felicidade: intensidade, frequência, busca e tipo de felicidade.
Referente à intensidade e frequência, tudo o que é extremado é pouco saudável, tanto nas emoções/ sentimentos que trazem mal-estar como as que trazem bem-estar. Estar extremamente feliz/ positivo é irrealista, e condiciona as tomadas de decisão. Alguém sempre feliz e positivo presta menos atenção aos detalhes, e às consequências negativas de decisões o que faz aumentar a impulsividade, correndo o risco de decisões com alto risco e disfuncionalidade em diversas áreas da vida. Também limita a criatividade, limitando a procura de soluções diversas e com isso um desenvolvimento pessoal menor; se estivermos sempre felizes, contentar-nos-íamos sempre com o que temos ao invés de procurar soluções para melhorar e/ou mudar.
Os autores referem-se à busca da felicidade, como se fosse um objetivo ou uma obrigação “tenho de ser feliz!” Vários estudos evidenciam o paradoxo da busca da felicidade: quanto mais a persegue, mais difícil a sua conquista. Talvez porque o foco esteja naquilo que não se tem, em vez de se focar na gratidão pelo que se tem e na aceitação das coisas tal como elas são. Adiciona-se pressão nesta busca, o que despoleta ansiedade, frustração e auto-crítica.
Quando os autores se referem aos tipos de felicidade, exploram essencialmente dois tipos – a felicidade que prejudica o funcionamento social; e a felicidade que não se alinha com valores culturais. Acerca do impacto no funcionamento social, pode dizer-se que uma boa vida social tem impacto no nosso bem-estar. Mas, quando alguém expressa apenas uma emoção que é demasiado intensa e frequente (estar sempre alegre, ou sempre orgulhoso, ou sempre simpático…), esta expressão tem um impacto negativo nas suas relações. Nomeadamente, se não apresentar boas capacidades de empatia, na relação com os outros, os laços sociais poderão enfraquecer-se. Além disso, alguém que surge sempre com orgulho nas suas acções, pode ser visto como arrogante e, a presença constante de simpatia pode ser sentida como falsidade ou superficialidade.
Acerca do tipo de felicidade que se pode desalinhar com valores culturais, em diferentes culturas, a felicidade (ou qualquer outro sentimento), é visto de diversas formas, e se felicidade do indivíduo não está alinhada com a perspetiva de felicidade da cultura onde está inserido, pode trazer amarguras para o individuo.
Estar feliz é maravilhoso. Mas como tudo, não pode ser o único estado emocional. Todas as emoções e sentimentos são importantes e cumprem a sua função. Se apenas sentimos uma parte da paleta de emoções, estamos a experienciar apenas uma parte e deixa de ser adaptativo ou saudável. Se apenas se focar na felicidade, não abre espaço para tudo o resto que engloba a vida, como estar triste, zangado/a, só, assoberbado/a, ansiosa, e que tudo faz partir de um caminho, não apenas de uma finalidade.
Gruber, j. Mauss, I.B.; Tamir, M (2011). A Dark Side of Happiness? How, When, and Why Happiness Is Not Always Good. Perspectives on Psychological Science (6): 2224
Ford, B. Q., Dmitrieva, J. O., Heller, D., Chentsova-Dutton, Y., Grossmann, I., Tamir, M., Uchida, Y., Koopmann-Holm, B., Floerke, V. A., Uhrig, M., Bokhan, T., & Mauss, I. B. (2015). Culture shapes whether the pursuit of happiness predicts higher or lower well-being. Journal of Experimental Psychology: General, 144(6), 1053–1062
Divagar para criar
Como em todas as tendências, o alvo nestes dias parece estar [...]
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É humanamente possível estar-se sempre feliz? Seríamos felizes se estivéssemos sempre felizes?
Excelente artigo, lembra-nos de ser realistas e aceitarmos que para sermos completos e plenos precisamos de aceitar, saber conviver e adaptar-nos aos vários estados, sem querer ou permitir, manter-nos mais tempo do que o necessario em cada um deles.
Uma descrição do que nos faz avançar na vida, e nos faz pensar: e se só houvesse felicidade, continuaria a ser felicidade?