O que é a atenção?
A palavra atenção ecoa no quotidiano de todos, nas mais variadas situações, ouvimos o som dos outros, por vezes até no nosso diálogo interno a dizer-nos para estarmos atentos, para nos concentrarmos.
Atiramos com a palavra em todos os sentidos, mas o que quer realmente dizer isto da atenção? Qual o significado na génese da palavra e como informa o nosso processo de tomada de decisão.
O psicólogo William James, um dos pioneiros na área definiu atenção como:
“A apropriação pela mente, de uma forma clara e vívida, de um entre vários e simultâneos objectos ou correntes de pensamento. Focalização, concentração da consciência são a sua essência. Implica ignorar algumas coisas para lidar de forma efectiva com outras.”
Postulava-se portanto, que a atenção é o processo através do qual nos concentramos num estímulo específico, deixando os restantes como pano de fundo. Sem este processo ser-nos-ia impossível experienciar a nossa existência. Encara-se a atenção como o factor essencial para a nossa vivência diária.
“A minha experiência é aquilo que decido e concordo endereçar. Apenas as coisas que noto moldam a minha mente, sem interesse selectivo a minha experiência seria caótica. É o interesse em algo que dá ênfase, traz luz, sombra, contexto de forma inteligível numa palavra.”
É a atenção a certos objectos, coisas, estruturas, que define quem nós somos, é o fundamento da nossa relação com o mundo e, sem a mesma, não conseguiríamos fazer sentido do que temos à volta.
Diferentes tipos de atenção
A atenção tem várias valências de estudo, que procura encontrar os diferentes factores que a influenciam. Como tal, existem vários tipos de atenção, com variadas definições.
- Arousal: activação e nível de alerta, se estamos cansados ou energizados.
- Atenção sustentada: capacidade de nos focarmos em algo durante um período de tempo prolongado.
- Atenção selectiva: concentração num dos estímulos que nos são transmitidos pelo ambiente, enquanto excluímos os restantes.
- Atenção dividida: capacidade para prestar atenção a vários estímulos em alternância.
Podemos afirmar, de algum modo, que a atenção é a pedra basilar da nossa experiência, como William James diria, o que permite fazer sentido do nosso mundo. Como tal, torna-se essencial perceber a mesma e o modo como a podemos melhorar.
O papel da atenção
A nossa atenção é influenciada por diferentes factores e a sua manutenção é muitas vezes, difícil. O simples acto de escrever um texto exige, essa mesma atenção, um foco na tarefa, em pensar e transcrever palavras, pressionar os botões do teclado e percepcionar no ecrã aquilo que intenciono escrever.
Só esta instância dá conta da complexidade que é algo que damos por garantido. É necessário reunir uma miríade de factores para realizar uma tarefa, acima de tudo, para realizar essa tarefa adequadamente. Num dia em que estamos mais ansiosos com alguma tarefa em particular, onde nos é difícil regular a maneira como nos sentimos, a nossa capacidade atencional sofrerá por consequência.
Se não estivermos no “estado certo” para a realização de uma tarefa, o tempo para a iniciar nunca vai chegar. E, se ainda assim a começarmos a fazer, a nossa performance, ou o modo como a fazemos será diferente do que quando estivéssemos inteiramente focados na mesma.
As evidências científicas têm mostrado que a nossa capacidade de atenção é directamente afectada pela nossa disposição. E problemáticas de saúde mental como ansiedade ou depressão, têm um efeito nefasto na nossa capacidade para reter atenção.
A atenção tem como efeitos imediatos, permitir-nos percepcionar, conceber, distinguir e lembrar. Utiliza um conjunto de recursos que nos são necessários para viver, recorre à memória para ajudar ao processamento de informação e nos ajudar a recordar o que for necessário.
Há uma ligação entre a atenção e os nossos estados psicológicos, uma interacção constante que molda e influencia, sendo muitas vezes a dificuldade em regular a nossa atenção, uma consequência de uma dificuldade em regular-nos emocionalmente.
Esta dificuldade tem impactos directos no nosso dia a dia, que podem levar a consequências mais gravosas. Percebemos então que a atenção é fulcral para vivenciarmos as nossas experiências, tem um impacto directo nas nossas vidas, pessoais, profissionais, que existem factores externos e internos responsáveis pela manutenção da nossa atenção e que muitas vezes, a mesma é afectada pela nossa dificuldade em regular emoções.
Dicas para a regulação da atenção e das emoções
Quando falamos na regulação de emoções, olhamos para a maneira como modulamos o impacto do que sentimos, através de uma reinterpretação e monitorização das situações.
“Sofremos mais em imaginação que na realidade” Seneca
Este princípio não é novo, o debate sobre a maneira como reagimos remonta à antiguidade clássica e aos pressupostos base do estoicismo, que serviram posteriormente como orientação de algumas linhas terapêuticas.
Hoje em dia, existem várias maneiras de regular as nossas emoções. O primeiro passo, é tomar consciência da maneira como nos sentimos e tentar perceber com nós mesmo, o que estamos a sentir, se estamos tristes, contentes, chateados. Tente perguntar-se, talvez até apontar ,“como é que eu me estou a sentir?”
Levar a nossa atenção para o modo como nos estamos a sentir, para o processo experiencial do nosso corpo, é inclusive, uma medida de atenção, que tem como consequência também a nossa regulação emocional.
Aqui pode encontrar várias técnicas que têm como intuito essa mesma regulação:
Embora estas técnicas possam servir como apoio a esta regulação, o apoio psicoterapêutico, tem aqui um factor crucial na organização e estruturação de aspectos essenciais ao nosso dia-a-dia.
Esta regulação não é igual para todos, a nossa experiência é variada e única, contextual, como tal, é preciso talhar a intervenção ao indivíduo e à sua vivência particular.
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Referências
James, W. (1918) The principles of psychology. New York, H. Holt.
Keller, A.S., Leikauf, J.E., Holt-Gosselin, B. (2019) Paying attention to attention in depression. Transl Psychiatry 9, 279
Moura, O., Pereira, M. and Simões, M. (2020) Perturbação de Hiperatividade / Défice de Atenção (PHDA): Diagnóstico, Intervenção e Desenvolvimento ao longo da Vida. Pactor.
Seneca, L. (2022) Letters from a stoic. William Collins.
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Pratico com regularidade, por uns 5 minutos, quando acordo. Mantenho a atenção em cada parte do meu corpo, começando pela ponta dos dedos dos pés, percorrendo todos membros, entranhas e órgãos do corpo, terminando com as regiões cerebrais. É super eficaz!
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