Quando os inimigos trabalham a nosso favor- truques para reforçar a memória
Desde muito cedo que nos é dito que aprender é uma escalada solitária até à montanha do conhecimento onde moram as pessoas inteligentes e, que tem a ver com disciplina. Temos que estudar sozinhos, desligar a música e manter uma rotina espartana se queremos ser uns “barras” no teste, memorizar aquela apresentação ou dominar aquele recital de piano. Somos mais incentivados pelo medo de falhar do que pela curiosidade ou deslumbramento. Estudos recentes demonstram que algumas das características que pensávamos serem os nossos piores inimigos como, “preguiça”, ignorância e distração, podem na verdade trabalhar a nosso favor.
Por estranho que pareça as distrações podem ajudar a prendizagem, uma soneca ajuda a consolidar conhecimentos, parar antes de concluir um projeto fortalece as ligações neuronais e a memória a longo prazo, fazer um teste sobre um assunto antes de se ter qualquer conhecimento melhora a aprendizagem posterior. E esta hem!
As descobertas atuais sobre a aprendizagem mais do que uma receita sobre como aprender descrevem um modo de vida.
O cérebro não é um músculo no sentido simples, é sensivel ao humor, ao período do dia, ao ritmo bilógico, à localização, ao ambiente…. Regista muito mais do que temos consciência e acrescenta pequenos detalhes em que não reparámos quando revisitamos uma memória ou facto aprendido. A maior dádiva do nosso cérebro é ter-nos dado a capacidade de aprender coisas novas todos os dias. O melhor presente que pode dar ao seu cérebro é Exercício fisico, mas que beneficia também todo o organismo. O cérebro tem dois modos de pensar, um a que podemos chamar de focado, em que nos focamos no que queremos aprender, e um modo difuso, um estado de repouso neuronal em que a consolidação da informação ocorre de forma a instalar-se no nosso cérebro. É nesta fase que a conexão entre pedaços de informação e insights inesperados pode acontecer. É por isso que é útil fazer uma breve pausa depois de uma tarde de trabalho concentrado.
Deixo algumas dicas que abanam tudo o que sabíamos sobre a forma como o nosso cérebro absorve e retém informação. São ferramentas que permitem alcançar o maior potencial que for possível em cada percurso na vida. Espero assim ajudar a reduzir a frustração e a aumentar a aprendizagem.
Estas dicas são utilizadas por peritos em arte, música, matemática, ciência, desporto e muitas outras disciplinas. É, no entanto, importante salientar que aprendemos de formas diferentes. Alguns de nós têm cérebro de “carro de corrida” e retém a informação a alta velocidade e outros com “cérebro de alpinista” levam mais tempo a assimilar as informações, mas, como um caminheiro, recolhem mais detalhes ao longo do caminho. Perceber as vantagens e desvantagens de cada uma destas abordagens é o primeiro passo para aprender coisas novas.
10 regras para um estudo eficaz
Relembrar – depois de ler uma página desvie os olhos e recorde as ideias principais. Relembre o que estudou quando vai a caminho da sala de aula, ou de uma sala diferente daquela onde estudou.
Testar – Teste-se o tempo todo. O testar-se a si próprio é uma das técnicas de estudo mais poderosas. Cartões de resumos são seu amigos.
Praticar – ajuda a criar um padrão neuronal que pode ser reactivado quando necessário. Pode ser uma equação matemática, uma frase em francês ou um acorde de guitarra. Blocos (neuronais) de conhecimento bem treinados são necessários para o desenvolvimento de conhecimentos especializados. A Prática traz a fluência.
Espaçar – distribua a aprendizagem por vários dias. A memória é como um músculo, só pode lidar com uma quantidade limitada de exercícios de cada vez. Divida o tempo de estudo ou de prática em 2 ou 3 sessões. É mais efectivo pois força-o a rever o que estudou, a “desenterrar” o que já sabe e a voltar a rearmazenar a matéria. Esta actividade melhora a memória de maneira confiável. O estudo intenso funciona bem a curto prazo mas não dura.
Alternar – estimular diferentes competências em cada sessão de estudo melhora a compreensão e domínio de todas elas. Acrescente ao seu estudo da Matemática um ou dois exercícios das primeiras aulas. Prepara-se para resolver diferentes tipos de problemas com as estratégias apropriadas e a saber onde e quando utilizar determinada técnica. No desporto os atletas alternam exercicios de resistência com os de força e asseguram perídos de recuperação de alguns músculos.
Fazer pausas – Quando estiver frustrado com um problema de matemática ou ciências, faça um intervalo para permitir ao seu cérebro consolidar a informação. Um pequeno intervalo no estudo, 5, 10, 15 minutos para ir ao facebook, ver emails ou o resultado do futebol é a técnica mais efectiva para resolver um problema quando estamos encravados.
Explicar –quando estiver “em luta “ com a aprendizagem de um conceito pergunte-se como o poderia explicar a uma criança de 10 anos. Utilize analogias simples, como por exemplo o fluxo da electricidade é como o fluxo de água… Não pense só nas explicações, diga-as em voz alta ou escreva-as. Este esforço adicional permite uma aprendizagem mais profunda pois converte-a em estruturas neuronais de memória.
Focar- desligue as notificações de telemóvel ou computador e depois programe um cronómetro para 25m e trabalhe concentrado. Quando o tempo acabar dê-se uma pequena recompensa. (um olhar no Instagram, uma mensagem no Whatsapp…). Algumas destas sessões num dia podem fazer avançar o seu estudo e aprendizagem. Tente definir horário e tempo de estudo. Sim, isto exige planemaneto.
Engolir sapos – faça as coisas mais difíceis, ou que gosta menos, mais cedo no seu dia enquanto está mais fresco.
Romper Hábitos – Varie o contexto em que estuda. Varie o ambiente, a hora do dia , os colegas com quem está e o local. Cada alteração à rotina enriquece as competências que estão a ser treinadas tornam-nas mais fortes, mais acessiveis por um periodo mais longo e menos ligadas a zonas de conforto.
10 regras a esquecer- enganam criando a ideia de que estamos a aprender
- Reler passivamente– passar os olhos pelas páginas do livro sem testar se se lembra é uma perda de tempo.
- Confiar nos sublinhados– sublinhar cria a falsa ideia de que está a prender quando está apenas a movimentar a mão. Pequenos sublinhados são bons para destacar pontos importantes mas só será uma ferramenta de aprendizagem se assegurar que entra no seu cérebro revendo e relembrando o que sublinhou.
- Ver as soluções. Este é um dos erros mais frequentes dos estudantes. Deitar um olhar à solução e achar que sabe como resolver é um engano. É necessário resolver um problema passo a passo sem olhar para a solução.
- Esperar até à ultima da hora – se quiser fazer uma corrida fará um treino intenso na véspera? O cérebro é como um músculo, só pode lidar com um limitado montante de exercício de um assunto de cada vez.
- Resolver repetidamente problemas do mesmo tipo que já sabe como resolver. Se resolve sempre exercícios semelhantes enquanto pratica não está a preparar-se para o teste. É como preparar-se para um jogo de basket treinando só o encestar.
- Deixar que o estudo com amigos se torne uma diversão. Testarem-se ou verificarem a forma de resolução de problemas uns com os outros pode ser uma forma mais prazerosa de estudar desde que o estudo venha primeiro e a diversão depois. O contrário é perda de tempo.
- Negligenciar os manuais antes de começar a resolução de problemas – Para a mergulhar numa piscina é preciso saber nada primeiro. Os manuais são os instrutores de natação, guiam-nos para as respostas. Vai atrapalhar-se e perder tempo se não ler o manual. Antes de começar a ler dê uma vista de olhos pelos assuntos para ter uma noção do que se trata.
- Não esclarecer com professors ou colegas pontos de dúvida ou confusão. A função dos professores é ajudar os alunos nos seu processo de aprendizagem. Os alunos que preocupam são os que não procuram tirar dúvidas. Não seja um desses alunos.
- Pensar que está a estudar profundamente quando está apenas distraído. Cada vez que uma mensagem, ou conversa o distrai e impede de se concentrar significa que está a retirar poder ao cérebro para se dedicar à aprendizagem. Cada pequena interrupção impede as redes neuronais de se estabelecerem e consolidarem na memória.
- Não dormir o suficiente. Durante o sono o cérebro consolida e filtra informação. O cérebro reune as técnicas de resolução de problemas e pratica e repete o que colocámos na nossa mente quando estamos a dormir. É como se fossemos dormir com um cérebro e acordássemos com um upgrade. O cansaço impede que as redes neuronais que precisamos para pensar bem e rapidamente se estabeleçam. DORMIR É APRENDER.
Qual foi o interesse que este artigo teve para si?
Gostei pelo fato de trazer informações úteis.
Muito útil e pertinente. Obrigada
Achei esse artigo super pertinente pra mim. Tenho TDAH, e tive meu diagnóstico à 3 anos. É impressionante fazer uma comparação entre a maneira como o meu cérebro funciona e a forma como ele deveria funcionar. Lendo esse artigo, foi como se eu estivesse relembrando inúmeros momentos da minha vida. Durante minha infância e adolescência e princípio da fase adulta, tive que me auto-analisar e encontrar, sozinha, estratégias para compensar minha forma diferente de pensar. Parabenizo a Oficina de Psicologia por esse artigo pois, na verdade, ele serve a orientar alunos como eu que não têm ideia de como eles podem ajustar suas formas de estudo para alcançar um aprendizado eficiente. Esse método é mais demorado, precisa de dedicação…mas funciona perfeitamente!
Um excelente dia para todos!!!
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