Prefere ouvir?
Ou prefere ler?
A Maria sente que tem de ser a melhor a Educação Física. Afinal, tanto o pai como a mãe são professores da disciplina.
O Tiago vive agarrado aos livros na busca da melhor nota a Biologia e Físico-Química. De Biologia gosta, já a relação com a Físico-Química é menos simpática – não sente interesse, acha difícil e não percebe muitos conteúdos. Mas o pai, engenheiro químico, diz-lhe que é tão fácil… Bem, e ele quer ser cirurgião como o avô.
A Ana treina horas a fio para as aulas de teatro. Quer ser uma reconhecida actriz e trabalha de forma afincada para ficar com o papel de protagonista em todas as peças que o grupo organiza.
Irritação, frustração, dores, ansiedade e tristeza prolongada. Estes são apenas alguns dos sinais de quem tenta ser “perfeito” e acaba por se sentir preso nesse objectivo longínquo. Nas nossas consultas surgem muitas crianças e adolescentes na busca pelo perfeccionismo irracional, inflexível, que prejudica a sua qualidade de vida; e que se sentem perdidos, cansados e, muitas vezes, zangados. Sentem-se num verdadeiro labirinto, de onde nem sempre sabem se querem sair.
Não há soluções rápidas, nem fáceis. Em todo o caso, deixamos algumas sugestões de como ajudar a criança/adolescente a ler a realidade de forma mais abrangente e flexível, definindo objectivos mais realistas e promotores de satisfação e bem-estar.
Ajude a criança/adolescente a perceber que a forma como ela se sente também está relacionada com a forma como pensa. Ajude-a a perceber se está numa espécie de “ratoeira mental”.
Estará ela a ver a realidade “a preto e branco”, na lógica do “este relatório está excelente ou este relatório está muito fraquinho”?
Estará a adoptar um estilo de pensar muito afunilado, que só vê a catástrofe, aquilo que mais teme? “Se não tiver boa nota nesta audição, o professor nunca mais vai confiar em mim e nunca mais vai atribuir-me um papel de protagonista.”
Estará a agarrar-se aos “tenho de” e “devo”? Ajude-a a subsitituir essas expressões por “posso” ou “escolho”, retirando-lhe um enorme peso de cima, mas que ainda assim não convida ao desleixo nem à despreocupação, pelo contrário, sente-se mais motivada e envolvida nas suas escolhas quando formula os seus objectivos de modo mais realista.
Ajude a criança/adolescente a detectar sinais corporais de que está a ser demasiado perfeccionista e exigente. Há pernas e mãos a tremer, dores de barriga ou de cabeça sem motivo aparente? Há dificuldade em manter a concentração, ficando a sensação de que quanto mais estuda menos sabe? Há esquecimentos de coisas do quotidiano? Os músculos estão tensos e o cansaço é frequente? Incentive a criança/adolescente a ouvir as pistas do seu corpo.
Não critique os erros. Ajude a criança/adolescente a olhar para eles como parte da aprendizagem, como oportunidades de perceber caminhos alternativos.
Se os sinais de desesperança, irritabilidade, ansiedade constante persistirem, pode ser importante procurar a ajuda de um profissional de saúde, como um psicólogo.
Como falar sobre a guerra com as crianças
Notícias sobre o início de uma guerra percorrem televisões, jornais e [...]