A palavra bipolar entrou nas “bocas do mundo” e é utilizada de forma popular. Quantas já vezes já ouviu dizer “o meu chefe é bipolar, ou está bem disposto ou com um humor de cão… ”, “ a Maria anda bipolar, tão depressa está contente como triste…”? Quando nos referimos aos altos e baixos, que todos temos em algum momento da nossa vida, e que manifestamos pela alteração do nosso humor é fácil e parece adequado dizer “é bipolar!”.
A perturbação bipolar é caracterizada por ciclos anormais de humor que vão muito para além dos altos e baixos normais que uma pessoa pode experimentar na vida diária. Os humores são intensos e levam muitas vezes a problemas de gestão do quotidiano. A vida é um constante carrossel emocional com episódios maníacos (altos) de extrema alegria, euforia e hiperatividade física e mental e outros depressivos (baixos) de desespero, inibição e dificuldade em conceber e realizar ideias com ansiedade e tristeza profunda. É uma condição debilitante e que pode dificultar o funcionamento de alguns e tornar quase impossível a vida para outros.
Aproximadamente 60% (2018) dos pacientes com perturbação bipolar são mal diagnosticados nomeadamente como Depressão major. A depressão e a perturbação bipolar podem ser difíceis de distinguir pois têm sintomas semelhantes. O processamento das emoções é um problema central subjacente a ambas e são virtualmente idênticas excepto que na perturbação bipolar os indivíduos também experienciam mania. Este é um importante desafio de diagnóstico clínico pois o tratamento depende deste diagnóstico. A sintomatologia, a história familiar e a genética são factores importantes de análise. A evidência da raiz biológica e hereditária da perturbação bipolar tem suscitado muita investigação médica.
Pode levar anos até que o diagnóstico seja feito correctamente!
Até muito recentemente, depressão e “doença maníaco-depressiva” eram entendidas como completamente independentes: ou se tinha uma ou outra. Agora, com uma nova abordagem, pela maioria dos especialistas em humor, são vistas como dois extremos num continuum, com variações encontradas em todos os pontos intermediários, embora apenas alguns pontos tenham nomes.
O extremo “unipolar” representa depressão sem complicações. Esta forma de depressão é de natureza mais genética ou “química”; contrariamente às de tipo mais situacional, como a resultante da perda de um ente querido. As depressões situacionais podem responder bem ao tempo ou à terapia e não requerem um olhar clínico e pensamento “bipolar”.
O extremo “maníaco-depressivo” é definido pela presença de episódios maníacos, como a maioria das pessoas já viu ou ouviu falar: mania delirante completa. Mas entre esta duas manifestações extremos existe uma grande área que, alguns especialistas em humor, acham que pode ser a forma mais comum de transtorno bipolar.
A abordagem através deste “espectro/continuum bipolar” dá imensa importância ao peso da história familiar e a idade de início da depressão. Estes factores são marcadores da perturbação bipolar que não constam ainda do DSM V.
Os critérios de diagnóstico do DSM V (Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais ) sobre o qual se baseiam os diagnósticos psiquiátricos não estão completamente alinhados com as últimas pesquisas cientificas o que provoca muitas vezes um exagero no diagnóstico de bipolaridade. A definição de critérios de diagnóstico através de regras rígidas e exclusivas, embora seja orientador e estruturante, pode ser redutor nesta perturbação tão complexa pelo que a psiquiatria está efectuar a avaliação utilizando mais do que aquela abordagem rígida.
Pesquisas recentes demonstram que a amygdala (neurónios cuja função é processar emoções) responde de forma diferente na depressão e na perturbação bipolar. A parte esquerda da amygdala é menos ativa e menos conectada com outras partes do cérebro na perturbação bipolar. Esta distinção teve uma fiabilidade de 80%..
Bipolar ou talvez não…
Provavelmente já percebeu: fazer um diagnóstico de transtorno bipolar às vezes pode ser complicado! Mesmo para os profissionais que trabalham com esta perturbação o diagnóstico é um verdadeiro desafio.
A correcta avaliação e diagnóstico é complexa e tem implicações determinantes na terapêutica medicamentosa e na abordagem psicoterapêutica. Podem não resultar, proporcionar alívio apenas parcial, ou deixar de ter efeito ao fim de algum tempo. Um mau diagnóstico pode ser perigoso e levar a fracos resultados económico e sociais.
O tratamento para a doença bipolar tem de responder com eficácia tanto aos episódios maníacos como aos depressivos, bem como aos momentos de humor misto e aos rápidos ciclos de transição. Também é muito importante conseguir evitar que haja recaídas. Esta perturbação é das que mais beneficia de um trabalho próximo entre médico psiquiatra e psicólogo e o tratamento inclui normalmente a utilização de medicamentos em conjunto com intervenção psico-social, como é o caso da terapia cognitiva-comportamental.
Se não se pode abandonar totalmente a abordagem do DSM (e há algumas boas razões para não abandonar), pelo menos deve-se adicionar uma abordagem baseada no “espectro bipolar” e usar as duas ao mesmo tempo para mapear melhor os problemas que se está a procurar compreender. Ambas as formas de olhar para o diagnóstico têm valor. É importante usar ambas.
Uma vezes sobrediagnosticada outras subdiagnosticada, uma vezes mania outras cegueira.
Referências:
Is bipolar disorder overdiagnosed?.
Bipolar Spectrum? Or Bipolar Yes/No?
Bipolar 2 and it’s many cousins – Updated 2/2019
Brain scans could distinguish bipolar from depression
Qual foi o interesse que este artigo teve para si?
a materia e boa , embora complexa para nos leigos no assunto , deveria ser mais abordada o tema .
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