O medo é uma emoção adaptativa, ou seja, permite ao ser humano ter reacções corporais e psicológicas que são importantes para a sua sobrevivência. Nas crianças existem medos que são adaptativos em certas fases do crescimento, como pode ler aqui (https://oficinadepsicologia.com/pai-tenho-medo/), mas quando o medo é exagerado, é inadequado à sua idade e a criança deixa de fazer coisas que queria por causa dos medos que tem, isso torna-se preocupante. Os medos exagerados estão dentro da categoria de ansiedade. E parece que as crianças ansiosas têm uma parte do cérebro que responde ao medo (a amígdala) mais desenvolvido comparando com crianças menos ansiosas.
Quando a criança demonstra ansiedade, os medos começam a aparecer e as queixas sintomáticas também: dores de barriga, enjoo, dores de cabeça, medo da separação, comportamentos imaturos, irritação, sensibilidade à crítica, comportamentos obsessivos ou fóbicos, medo do escuro, medo de adormecerem sozinhos, solicitação constante da presença/atenção do adulto.
Enquanto cuidador, perceba no que pode contribuir para que esta ansiedade se mantenha. Sabemos que faz parte da educação, mas o constante alerta para os perigos pode criar ansiedade na sua criança, e esta começar a entender o mundo como um sítio ameaçador e cheio de perigos.
Uma estratégia que pode utilizar é a exposição muito, mas muito gradual (por exemplo, se tem medo de cães, pode começar por mostrar um desenho, depois uma foto real, ver apenas de longe, ver do outro lado da janela, etc…) e ir reforçando os ganhos que vai tendo. Com o medo do escuro, pode ir brincando com um novelo de lã e a criança experimentar os quartos sem luz, mas com o apoio daquela linha de lã, que sabe que do outro lado estará o pai ou a mãe.
Outra estratégia que pode tentar, é integrar o medo numa história, como que conversar com os pensamentos que lhe provocam medo, mas desenhar uma história diferente da que na cabeça da criança costuma acontecer (em vez do lobo mau comer a avozinha, pode ir fazer um bolo com ela).
Deixo-lhe um pequeno vídeo que pode mostrar ao/à seu/sua filho/a e explicar-lhe que por vezes o cérebro faz os medos maiores do que eles são para nos proteger. O medo é uma resposta automática, mas podemos parar para pensar e explicar ao medo que ele não precisa de assustar. Afinal, nós é que mandamos nos pensamentos, e o medo até pode ser nosso amigo.
Se as estratégias não resultarem, não insista, pode acabar por criar stress. Pondere consultar um psicólogo para ajudar o/a seu/sua filho/a nesta fase delicada.
Referências
Shaozheng Qin, Christina B. Young, Xujun Duan, Tianwen Chen, Kaustubh Supekar, Vinod Menon. Amygdala Subregional Structure and Intrinsic Functional Connectivity Predicts Individual Differences in Anxiety During Early Childhood. Biological Psychiatry, 2014; 75 (11): 892 DOI: 10.1016/j.biopsych.2013.10.006
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