Eu como, tu comes, nós comemos… mal.
Padrões familiares nas perturbações alimentares
Para além dos aspectos individuais e sócio-culturais, os factores familiares têm mostrado ter grande impacto no desenvolvimento e manutenção das perturbações alimentares.
A educação, valores e modelos que a família transmite, têm grande influência no desenvolvimento das suas crianças. Relativamente ao comportamento alimentar, também existe padrões que se vão fundando na família. A forma como a família se relaciona com a comida, a atitude que têm sobre o peso ideal, a aparência física, a satisfação com o corpo, são crenças e valores que são aprendidos pelos mais jovens, e podem influenciar no desenvolvimento das perturbações alimentares destes.
Até ao momento os estudos não apresentam dados consistentes sobre a influência da carga genética no desenvolvimento das perturbações alimentares. No entanto alguns padrões familiares têm sido reconhecidos nas diferentes perturbações alimentares.
Um estudo italiano com adolescentes, em 2016, feito por Mimma Tafà e colegas, sistematizou informação descrita por investigações anteriores. Os dados encontrados são a percepção dos jovens e das famílias, sobre o funcionamento familiar:
– Em famílias com adolescentes diagnosticados com Anorexia Nervosa, são relatados problemas ao nível dos limites interpessoais (intromissão, sobreprotecção e dependência), pouca tolerância para conflitos, evitando-os, insatisfação na família, grande rigidez, perfeccionismo e organização, e pouca qualidade de comunicação.
– Em famílias com jovens com diagnóstico de Bulimia Nervosa, são descritas como famílias mais desorganizadas, com pouca flexibilidade e fraca coesão entre elementos, para além de altos níveis de conflitos e stress familiar.
– Em famílias onde existe diagnóstico de ingestão compulsiva, existe a percepção de pouca expressão emocional, comunicação pouco afectiva, provocação relacionada ao peso, e conflitos emergentes.
Portanto, características como rigidez, fraca comunicação, pouca expressão ou gestão emocional parecem ser descritos como comuns em famílias onde existe jovens com diagnóstico de perturbação alimentar.
Portanto, enquanto família, o que pode fazer para prevenir distúrbios a este nível?
– Manter uma boa relação com a comida: se por um lado esta tem uma função de nos manter saudáveis, por outro também é uma actividade de prazer e socialmente valorizada. Estar consciente do nosso comportamento perante a comida, reconhecer a fome emocional e ter cuidado com o controlo excessivo sobre a alimentação
– Ter refeições em família, permite criar mais partilha e fomentar a coesão entre os elementos da família, para além de que é um bom momento para conversar e estar alerta a eventuais mudanças no comportamento.
– Promover a harmonia na dinâmica familiar, permitindo uma comunicação onde existe espaço para as emoções, e retribuir de forma compreensiva.
– Deve existir uma moderação entre limites e flexibilidade, entre estar atento e não dar espaço para crescer, entre distância saudável e desligamento emocional.
– Ter uma saúde física e mental é essencial para conseguir criar uma família, por isso os pais também precisam cuidar de si mesmos.
Entender como os padrões emocionais da família se reflectem no comportamento alimentar não é fácil, mas quando é identificado um problema grave que tem impacto vital a nível físico, mental, familiar e social é necessário ocorrer mudanças. A intervenção a nível médico e psicológico é essencial. Se precisar, não hesite em pedir ajuda.
Inês Ponte
Divagar para criar
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