Se não existissem palavras, como saberíamos onde mora a dor de alguém?
Todos os dias vejo a dor. De olhos fechados. Todos os dias lido com dor. Minha e dos outros. Encontro corpos cansados, esgotados, exaustos. Dói da pele para dentro. Onde não se vê. A dor emocional. A dor física. O sofrimento de uma pessoa não se divide por palavras.
Se não existissem palavras, como diria o que lhe dói?
O nosso corpo é a nossa casa. E, tantas vezes, não queremos lá morar. Viajamos para longe do corpo, queremos fugir-lhe. Sofremos num labirinto de árvores em queda, sem encontrarmos o que procuramos. Alívio. Viver com dor é saber como regressar. Todos os dias. Acolher o corpo e a vida de emoções que lá mora.
Se não existissem palavras, como saberíamos ajudar a dor de alguém?
Todos os dias sinto a dor, com presença, e abro os olhos para descobrir um sorriso no rosto à minha frente.
Todos os dias acolho a dor. De mão estendida. À espera do momento certo para voltarmos. Pobres corpos, frágeis, exaustos. Mas, são as nossas casas. Quanto mais fugirmos, menos cuidamos.
No nosso curso de Mindfulness para Dor Crónica, estendemos as mãos para aprendermos a cuidar.
Na prática de Mindfulness, reconhecemos a diferença entre dor e sofrimento sobre a dor. Chamamos-lhe sofrimento primário e sofrimento secundário. Um dos objectivos da prática de Mindfulness é dissolver a resistência ou catastrofização que está a ter a propósito da sua dor. Sabe quanto do seu sofrimento é amplificado pelos seus pensamentos?
Mindfulness leva-nos ao encontro da dor, para descobrir os espaços sem dor. O que quer isto dizer? Que em tudo aquilo que o ser humano sente, existe variação. Tal e qual como acontece com as ondas do mar.
As ondas não estão estáticas, têm movimento. Assim estão o seu corpo, as suas emoções e a sua dor. Em movimento e impermanência.
Tal como as ondas que ficam maiores, ou mais pequenas… também a sua dor aumenta e diminui, ou seja, flui. Será que se consegue focar no espaço entre as dores, esse possível espaço de alívio?
Deixo-lhe uma breve prática, para reparar na existência deste fluxo e na forma como os seus pensamentos exercem o poder sobre as suas emoções e sobre o seu corpo.
Todos os dias podemos mudar a nossa relação com a dor. Às vezes, só não sabemos por onde começar. Outras vezes, deixámos de acreditar.
Seja qual for a sua dor, estou aqui para si. Todos os dias.
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