Todos tínhamos sonhos, antes do isolamento. Será que estão suspensos?
Pode acontecer que sinta os seus dias a passarem muito rápido, como se dos sonhos onde flutuava tivessem chegado agora ondas sucessivas que chocam contra si e o atordoam.
Sabe como é?
Como quando estamos num mar revolto e a força das ondas que embatem, nos enchem a boca de espuma salgada. Queremos respirar, mas a velocidade com que tudo acontece é muito mais rápida que a nossa velocidade para pensar.
E nós só queremos parar. Parar. Respirar. Parar. Perceber. E não percebemos, não sabemos o suficiente para perceber. Só sentimos medo, aflição, atordoamento.
É isso. Ontem sonhava, hoje estou atordoado. Sei que dia é, mas já não me lembro em que dia estou. Oiço violinos sem saber onde está a orquestra e só sinto o tempo passar, as dúvidas a aumentar, as ondas a chocar e eu sei sem saber para onde olhar.
Eu sei nadar, eu sei. É só rodar os braços, bater pernas. Pára de estar atordoado. Submerge. Sustém a respiração. Silêncio. Aproveita. Estás sem ar, mas consegues atravessar as ondas.
Vou submergir, em casa, esquecendo-me de onde estava e para onde ia, para me lembrar de que aqui estou. Aqui estamos. Presentes, suspensos, a bater pernas sem saber para onde vamos. Juntos.
Nadamos contra as ondas, olhamos para quem amamos.
Acreditamos. Superamos? A incerteza e a dúvida navegam connosco. Não me pesam. Só lágrimas nos olhos num andamento adagio. Isto não vai acabar aqui.
É só isso, a certeza de que o amor não acaba. Hajam lágrimas em vez de abraços, por hoje. Sorrisos que se entendem online, onde os beijos se desprenderam da face.
Levanto os olhos, pairo nas ondas, sou levado. Desisto de nadar. Abraço-me. Abraço-vos, choro novamente. Vai ficar tudo bem. Juntos, neste mar revolto, perdidos cada qual na sua onda.
Ontem sonhávamos. Hoje flutuamos. Ao sabor das marés, aninhados no tempo que passa.
Talvez alcancemos o que não esperávamos, talvez nos possamos erguer. Talvez, juntos, voltemos a sonhar.
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