Diabetes e Bulimia
A investigação sugere que as mulheres que sofrem de diabetes tipo 1 têm uma probabilidade 2.4 vezes superior de desenvolverem uma perturbação do comportamento alimentar. Se se sofre de diabetes e de uma perturbação alimentar e/ou usa inadequadamente a insulina para perder peso, essa condição é frequentemente apelidada de “diabulimia”. Este é um comportamento purgativo específico de quem sofre de diabetes. No DSM-5, os critérios para comportamentos compensatórios do diagnóstico de bulimia nervosa incluem “ o mau uso de medicação”, o que significa que se ocorrer ingestão compulsiva e mau uso da insulina como mecanismo compensatório, estaremos na presença de bulimia nervosa.
A presença de diabetes e perturbações alimentares também pode ser comórbida, sem que para isso tenha de haver mau uso da insulina. Nestes casos, a presença da perturbação do comportamento alimentar dificulta a melhoria do quadro clínico da diabetes.
Um estudo de Gagnon e colegas verificou que cerca de metade das pessoas com diabetes referem ter alguma forma de comportamento alimentar perturbado. Perturbação de ingestão compulsiva (10% das pessoas com Tipo 1 e 21% das pessoas com tipo II) e bulimia nervosa ( 3% em ambos os tipos) são os diagnósticos mais encontrados na amostra de pessoas com diabetes. Contudo, na maioria dos casos, os sintomas não cumprem os critérios do DSM-5 para uma perturbação alimentar.
Não se sabe exatamente as razões que levam a esta estreita relação entre os diabetes e as perturbações do comportamento alimentar, mas existem algumas teorias. Em primeiro lugar, sabe-se que os diabetes estão associados a fatores de risco para o desenvolvimento das perturbações alimentares, como, por exemplo, a existência de sintomatologia depressiva. Depois o ganho de peso associado à diabetes, que interfere com a imagem corporal e autoestima, tornando tentador deixar de tomar a insulina adequadamente. Por último, existe a dieta que os pacientes passam a ser sujeitos, e que os leva a pensar muito mais em comida, aumentando o risco de dietas restritivas e de episódios de ingestão alimentar.
As consequências de uma perturbação alimentar em alguém que sofre de diabetes – por dificultar o tratamento apropriado da última – podem ser várias. Nos pacientes de tipo 1, a consequências a curto prazo podem ser acidose metabólica -em que o sangue fica ácido -, falha renal, dano do sistema nervoso periférico, perda de visão, doenças cardiovasculares e coma.
A boa notícia é que existe tratamento para estas duas condições, que exige especialização e coordenação dos profissionais de saúde. Alguns pacientes poderão ter de ser internados até que estabilizem. Em tratamento ambulatório, é fundamento a existência de uma equipa disciplinar composta por psicoterapeutas, psiquiatras, nutricionistas e endocrinologistas.
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