Presença. Consciência. Atenção plena. Não julgamento. Compaixão. Soa-lhe bem? Provavelmente, como muitas pessoas, o seu maior desejo é conseguir encontrar um espaço de serenidade, de maior envolvimento com o realidade do mundo à sua volta e não com os mundos que cria dentro de si.
Tenho observado, infelizmente, que muitas pessoas “usam” o Mindfulness para atingir algo. Mais foco, mais tranquilidade, mais produtividade. Pois se vão à procura disto é provável que não o encontrem.
Dou-lhe um exemplo. Sabe quando quer relaxar? Qual é a pior coisa que lhe podem dizer?
Isso: Relaxa!
Sabe porque é que é a pior coisa que lhe podem dizer? Exactamente porque, se estiver ansioso ou tenso, o seu sistema de alerta vai estar à procura de uma resolução imediata e quanto mais se foca na tentativa de relaxar, pior se torna o cenário. Imagine esta corrente de pensamentos, uns a seguir aos outros:
- Estou ansioso
- Não devia estar ansioso
- Como é que eu mudo/páro isto?
- Eu não me devia mesmo sentir assim, tenho de relaxar rápido.
- Isto só vai piorar, não estou a conseguir.
O que é que o Mindfulness tem a ver com isto? Tudo! Porque é neste pressuposto de causalidade, de que se eu fizer A e se eu conseguir B então atinjo Z, que muito do nosso sofrimento é gerado.
Assim, a aprendizagem de Mindfulness não é uma panaceia mágica. De um conjunto ainda pequeno de validação científica robusta, sabemos que esta aprendizagem envolve:
- Reconhecimento dos padrões de pensamento (a história que está a ser contada)
- A vivência do corpo e a sua relação com esta história
- Os padrões internos de resistência à sensação e a capacidade de abrir espaço para permitir a experiência como ela é, e não pela história que é contada (experiencial e não conceptual).
- Respiração e corpo como âncoras da realidade e consciência alargada do movimento momento-a-momento das sensações, emoções e pensamentos.
- Compreensão vivida vs. compreensão adquirida
Por isso, se eu for praticar uma atitude global de relação comigo e com os outros como é o Mindfulness sem nunca perceber que o que tenho para aprender é uma prática experiencial (ou seja, é preciso conhecer, vivendo o corpo e a sua relação com as emoções e com os pensamentos de forma consciente e presente!) e não uma metodologia de resolução de problemas XPTO… posso estar num caminho incompleto.
Temos, neste momento, um desafio enorme nesta prática que se tornou viral. Mindfulness viral não é mindfulness real. Porquê?
Porque esta viralidade sem genuinidade, prática diária e validação inequívoca da comunidade científica, corre o risco de um entendimento superficial, desligado do real potencial terapêutico disseminando uma assunção perigosa de que Mindfulness é para todos. Nem o Mindfulness é para todos, nem é algo que se possa resumir por palavras e clichés.
É neste sentido que o nosso desafio com o Programa Experimente Mindfulness tem sido o de permitir às pessoas um primeiro contacto com pressupostos essenciais da prática ajudando, ao longo de seis semanas, ao começo do desenvolvimento de novas possibilidades na relação consigo e com o mundo.
Sabemos que a cada passo desenvolvemos um caminho que pode conduzir a maior bem-estar. A cada passo estamos presentes. Neste caso, para si e consigo.
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Mindfulness viral não é mindfulness real
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