Quero falar-lhe do paradoxo das escolhas e isto porque fui almoçar a um restaurante com tantas opções de escolha no menu que fiquei ansiosa. Hoje partilho esta minha experiência consigo, dissecada com perlimpimpins da Psicologia Clínica e da Saúde, para nos ajudar a perceber como aquele pensamento de que “quanto mais opções de escolha tivermos melhor”, é uma grande falácia!
Ora estava eu em frente a um menu com mais de 20 opções de pratos principais e sinto uma leve ansiedade a percorrer-me o corpo. A primeira consequência disto foi começar a sentir a dificuldade em optar: isto, talvez aquilo,… Não preciso explicar como isto aumentou a minha indecisão certo? A verdade é que acabei por abrir mão do meu poder de escolha, sem sequer me dar conta pois na verdade, ao refletir sobre o que aconteceu, percebo agora que a minha escolha, como todas as nossas escolhas, são maioritariamente pouco racionais, mais implícitas e inconscientes. Em concreto, aqui estava eu a pensar sobre as opiniões dos outros, a debater as virtudes de cada escolha, acabei por basear a minha escolha no que vi os outros escolherem para eles. Por fim, dei por mim a debater-me se realmente tinha escolhido o melhor prato pois havendo tantas opções, as minhas expetativas naturalmente aumentaram. Quando o prato veio para a mesa estava bom, mas ainda assim fiquei insatisfeita e arrependida pois no fundo “esperava mais”. Em ultima instância, comecei a pensar que cometi um erro e a sentir-me culpada por não estar a ter tanto prazer na refeição quanto poderia e isso, claro está, ainda me deixou mais ansiosa e frustrada comigo mesma. Percebem o loop interminável? Ora vamos lá trocar esta minha experiência de escolha gastronómica ansiosa por miúdos da Psicologia.
Fazemos uma média de 35000 escolhas por dia, desde a mais simples como decidir se damos um passo para a esquerda ou para a direita, à mais complexa decisão profissional, por exemplo. Estas escolhas mais simples são oriundas de um sistema rápido, automático e intuitivo no cérebro ao invés das escolhas complexas, que surgem de um sistema mais lento, analítico e racional que despende, por isso, muita energia do cérebro.
Ora quanto mais escolhas fazemos no nosso dia-a-dia, mais cansado fica o nosso cérebro, especialmente se forem complexas. E é nesta altura que sentimos um desgaste diário tal que começamos a questionar-nos se não estaremos deprimidos ou em burnout. Não se confundam. Esta falta de energia mental por fazer demasiadas escolhas chama-se “fadiga decisional” que tem como consequências diminuir a nossa capacidade de autocontrolo, leva à inércia e a decisões automáticas com base no que “é suposto” ou habitual e corrente.
Explicado porque abdiquei de exercer uma escolha e acabei por pedir o prato que os outros pediram? Na sequência de dias intensos, de muitas escolhas e das muitas decisões, cada vez mais, ao dispor de todos nós?
Este fenómeno também explica porque às vezes cometemos tantos “disparates” ao final do dia – decidimos não ir ao ginásio porque estamos cansados, chegamos a casa, deitamo-nos no sofá, pedimos fast food e vemos 5 episódios seguidos da nossa série favorita. Soa-lhe familiar?
Quanto mais decisões toma durante o dia, mais se torna difícil tomar boas decisões à noite, pois o seu autocontrolo está diminuído, o seu cérebro está cansado, tal qual como os nossos músculos depois de uma hora de exercício físico. Como prevenir esta fatiga decisional? No fundo temos que trabalhar com estes dois sistemas que lhe expliquei e automatizar ao máximo diversas decisões diárias para pouparmos o sistema mais racional para quando é necessário evitar decisões impulsivas e erros. Confuso? Explico-lhe tudo aqui:
Que ideia gostaria que retivesse hoje? No fundo que a as vantagens sociais e económicas de que escolhas significam autonomia e liberdade resultam muitas vezes numa doce ilusão amarga J. As escolhas implicam riscos, perdas e mudanças, imprevisibilidade e incerteza, o que indubitavelmente anda de mãos dadas com a ansiedade. Deixar as coisas ao acaso é intolerável e por isso tentamos ao máximo impedir o risco de isso acontecer. Mas ao travarmos o acaso, diminuímos a nossa felicidade pois não nos permitimos a possibilidade de surpresas agradáveis. Ainda mais grave, estamos presos ao arrependimento e insatisfação pois é impossível chegarmos à escolha ideal o que nos leva a sentimentos de culpa, inadequação e elevada autocrítica. Outra pescadinha de rabo na boca para o aumento da ansiedade. A escolha é, então, a hesitação antes da decisão, que, quando aumentada e diversificada, nos pode leva a confusão mental, a sentimentos de duvida constante o que diminui a nossa autoconfiança.
Como ultrapassar isto? Há solução ou o cérebro está programado desta forma e nada podemos fazer?
Há solução para quase tudo na vida, e aqui não é exceção.
Veja aqui algumas dicas para tornar a sua vida facilitada quando tem que fazer escolhas
E mais: porque não tenta entender as suas escolhas como nuvens? Eu explico… Não há nenhum formato de nuvem bom ou mau, pois não? Então porque também não pensarmos que as escolhas são apenas isso, escolhas, possibilidades, e que não podem ser boas ou más? Ora no fundo ajuda pensar que não podemos cometer erros catastróficos, mesmo quando parece que o fizemos quando escolhemos A ou B. A verdade é que tudo se acaba por resolver de uma maneira ou de outra. Navegue nas suas memórias passadas e lembre-se de um problema que parecia enorme e insolucionável há uns anos atrás quando o estava a viver, e presentemente até sorri ao se lembrar de como exagerou nos seus medos e ansiedades na altura. Confie em si, pois todos os caminhos são caminhos certos, à sua maneira, e depois de passados pelo crivo do tempo. E, mesmo quando se encontram soluções que poderiam ter sido melhores, agora quando as vemos pelo retrovisor, o facto é que as escolhas que vamos fazendo arrastam sequências de acontecimentos únicos, fundamentais para a vida de hoje e para quem somos presentemente, e de que dificilmente consideraríamos abrir mão. Certas ou erradas, não há como saber, mas eis que aqui estamos nós, aqui e agora, como resultado directo de todas elas. Aproveitemos!
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acompanho há mito tempo as publicações da Oficina de Psicologia porque são interessantes, atualizadas e relevantes.
ameiii
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