O chamado “Síndrome de só mais um minuto”
Qual o pai ou mãe que ainda não viveu este cenário: “Rodrigo desliga o tablet”, “Só mais um minuto mãe!” E é por isto que os investigadores intitularam “síndrome de só mais um minuto” quando falam do vício do mundo virtual nas crianças e adolescentes.
Se nas gerações anteriores os pais entretinham os filhos com a televisão, nas gerações mais recentes entretêm-se os filhos com o tablet (internet). Não vamos aqui entrar numa espiral de apontar dedos, de julgar, de comparar ou de nos culpabilizarmos. Atire a primeira pedra que já não o fez!
Não vamos ser mais papistas que o papa mas a verdade é que é preciso refletir sobre as coisas e equacionar vantagens e desvantagens, pois uma moeda tem sempre duas faces, e por isso temos o dever de fazer decisões informadas. Ora como em tudo na vida, também o uso das tecnologias e da internet é um pau de dois bicos. Se por um lado pode ser educativo e promover competências cognitivas, dá um acesso fácil e rápido a informação, é um bom passatempo que até diminui tédio e dias em que filhos estão mais rabugentos; por outro lado submete-os a uma sobrecarga de informação, promove o sedentarismo e fá-los perder a noção de tempo e espaço que até se esquecem de comer e ir à casa-de-banho. Em consequência, diminuem tempo de relação com a família e amigos, que por sua vez leva a uma diminuição de competências comunicacionais e relacionais nestas diferentes áreas e a um maior isolamento; surgem os problemas físicos de perda de peso, problemas de visão, coluna e dores de cabeça constantes; e instala-se o cansaço excessivo e privação do sono. Não preciso explicar como tudo isto afeta a performance na escola, pois não? E como a longo prazo toda a saúde física e mental do seu filho pode estar fortemente afetada, certo?
No fundo, embora existam vantagens nesta nova era tecnológica em que vivemos, por ser tao vasta e um mundo quase inesgotável de coisas a explorar pode rapidamente se transformar numa adição, precisamente, por exemplo, por esta busca compulsiva de mais e de coisas novas. E sejamos sinceros, os nossos filhos usam as tecnologias na grande maioria das vezes para uso recreativo e não educacional.
Também enquanto pais informados sabemos que a investigação recente nos tem bombardeado com as consequências para a saúde física e psicológica, de vida emocional e social das crianças e adolescentes. Mas ainda assim vamos “esticando a corda” pois em análise vemos que os nossos filhos são felizes e adequados nas diferentes áreas da vida. Mas isto pode ser alterado rapidamente, através por exemplo de um acontecimento stressor e significante na vida do seu filho, que poderá abrir a porta a todas as consequências nefastas de uma utilização não supervisionada.
Partilho consigo um estudo interessantíssimo feito na Roménia em 2010. 200 estudantes do ensino secundário, com idades compreendidas entre os 15-19 anos com computador pessoal e acesso total ao mesmo no seu tempo livre foram avaliados em 3 áreas: nível de uso, motivações para esse uso, sintomas de depressão. Os resultados revelaram que 71 desses adolescentes tinha um nível excessivo de uso do computador, 80 um nível de uso médio e apenas 49 um nível baixo de uso do computador. O que motivava estes jovens ao uso excessivo eram maioritariamente sentimentos de insegurança, problemas familiares, problemas escolares, pouco suporte social e problemas financeiros. Todos os jovens, em diferentes graus, apresentaram sintomas clínicos de depressão.
Assustador, não é?
Como explicamos isto? O mundo virtual parece ser mais fácil, os nossos filhos podem ter acesso a quase tudo, de forma muito rápida, com pouco ou mesmo nenhum dinheiro. Para além disso, é um mundo que normalmente não julga, o que a curto prazo pode trazer uma sensação de segurança. Por outro lado, nos casos em que os pais não dão tanta atenção aos filhos por estarem ocupados ou exaustos, as tecnologias e a internet preenchem também esta solidão, fazem-nos sentir acompanhados. No entanto, estes sentimentos de segurança virtual e de companhia são auto sabotadores, ou seja, a curto prazo trazem satisfação mas a longo prazo geram ainda menos socialização, comunicação e informação da vida real. E por último, sabe-se que os videojogos, por exemplo, têm o mesmo efeito no centro de prazer do cérebro do que comer chocolate. Logo, parar com uma atividade prazerosa não é fácil, muito menos para as crianças e adolescentes que por terem menor maturação cognitiva (que ainda está em desenvolvimento até aos 25 anos), têm, naturalmente e biologicamente, menos capacidade de autocontrolo. E por isso, os pais têm mesmo que assumir esse controlo, ainda mais quando a UNICEF nos dá dados recentes de que um em cada três utilizadores da internet são menores de 18 anos.
Posto isto, o que podem fazer os pais?
Regra básica é a de estabelecer de forma consistente: limites, horários e condições de utilização, sendo que muitas vezes limitar o uso da internet e tecnologias a espaços comuns da casa é uma boa opção. Ao mesmo tempo analise o seu próprio comportamento com as tecnologias e altere padrões, pois os pequenos aprendem por modelagem, ou seja, aprendem a fazer o que nós fazemos. Depois existem diversas estratégias que podem passar pela promoção de momentos em família “sem tecnologias”, dar a conhecer novas atividades e passatempos, e até mesmo praticar desporto ou outra atividade física em família.
Tanta coisa, mas acima de tudo a palavra de ordem é família – passar tempo em família, construindo relações reais e de qualidade com os seus filhos, mesmo que a loiça fique por lavar, ou que o cansaço do dia de trabalho lhe tenha dado uma enorme dor de cabeça e só lhe apeteça afundar-se no sofá, ou mesmo até se o patrão exigiu um trabalho “para ontem” e por isso trouxe trabalho para casa.
Termino com votos de reais momentos em família e com qualidade e alertando para que se sentir que o seu filho quer constantemente passar mais tempo na internet do que pode, se negligencia relações com a família e amigos e se isola, se está agitado ou ansioso nos momentos em que não está a usar tecnologias, se mente no que respeita o tempo em que esteve a usar a internet, e se nota que estas coisas estão a interferir com a escola ou outras áreas do funcionamento global dele, procure ajuda.
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