Já muito se ouviu falar do festim de sintomatologia cognitiva, afetiva, física e comportamental que carateriza as perturbações de ansiedade.
Menos discutido é o impacto que a ansiedade tem nos processos de tomada de decisão.Mas, se nos lembrarmos bem, talvez todos nós já tenhamos tido um ou outro momento onde foi difícil fazer escolhas porque estavamos bastante ansiosos. Está a recordar-se de algum episódio?
Vamos então perceber um pouco do que se passa nestas situações.
Bases neurológicas do processo de tomada de decisão e o impacto negativo da ansiedade
Com recurso à neuroimagem, várias investigações têm apontado que a ansiedade parece enfraquecer a atividade neuronal do cortéx pré-frontal, uma parte do cérebro que é responsável pelo planeamento a longo prazo, cálculo de risco de determinado comportamento, regulação emocional, resolução de problemas e processos de tomada de decisão.
Um estudo em particular induziu estados ansiógenos em ratos e verificou que a ansiedade suprime a atividade espontânea dos neurónios do cortéx pré-frontal, enfraquecendo especificamente um subgrupo de neurónios responsáveis pela codificação de regras associadas a tarefas. Estes neurónios têm grande relevância no processo de tomada de decisão baseada em regras que são importantes. Os resultados revelaram que a amostra de ratos mais ansiosos apresentavam maior dificuldade em decidir que curso de ação tomar para desempenhar determinada tarefa. Com as devidas ressalvas da generalização desdes dados para o comportamento humano, este estudo verificou que a ansiedade desativa a atividade neuronal de forma bastante “especializada”, e dificulta o processo de tomada de decisão.
A ansiedade que “contamina” os componentes da tomada de decisão
De acordo com o modelo de decisão baseado no maior valor, existem vários estádios no processo de tomada de decisão. Passamos a explicar cada um dele, bem como a influência negativa da ansiedade.
1)Representação: antes de tomar uma decisão existem uma série de fatores predisponentes que podem influenciar este processo, com base em estímulos internos (emoções, pensamentos) e externos (fatores relacionados com o contexto).
– Maior ansiedade diminui a capacidade de deteção do risco, contribuindo para decisões mais cautelosas
– Maior perceção de estímulos internos (emoções memórias, etc) irá mediar a relação entre a ansiedade e a performance em determinadas tarefas.
2) Avaliação: avaliação do valor atribuído a cada ação
– Maiores níveis de ansiedade antecipam mais consequÊncias negativas(menor valor) da decisão a tomar
3) Escolha do curso de ação a tomar de acordo com o valor associado
– Em indivíduos com perturbações ansiosas a perceção de recompensa terá de ser maior para haver maior exposição ao risco que uma determinada decisão comporta.
4) Avaliação das consequências da decisão tomada
– Nas perturbações ansiosas o medo da perda é maior, sendo que haverá mais sensibilidade à perceção de perda perante uma determinada decisão.
5) Aprendizagem: atualização dos estádios anteriores com base na experiência.
Ao limitar a exposição a situações de incerteza, indíviduos mais ansiosos aliviam de forma temporária a ansiedade, mas não se permitem desconstruir determinadas expectativas erradas sobre o que os rodeia, o que ajuda a manter a sintomatologia ansiosa.
Concluindo, a sintomatologia ansiosa leva a que perante situações de incerteza haja maior dificuldade em assumir riscos, maior pessimismo relativamente às consequências de decisão tomadas e dificuldade de integração de nova informação que possa melhorar a capacidade decisão.
Para regular esta ansiedade, tanto haveria para dizer – sobre isto, não se esqueçam de consultar o manancial de informaçãoque a Oficina de Psicologia disponibiliza. Deixo também este pequeno exercício, o Espaço Respiração, para vos ajudar em momentos de maior ansiedade.
Fontes
https://www.researchgate.net/publication/312002566_Decision-Making_in_Anxiety_and_Its_Disorders#pf7
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Foi muito importante…ter uma desordem de ansiedade, com depressão à mistura leva-nos a não nos compreeender e culpabilizarmo-nos. É horrível quando isso para para um relacionamento…todas as semanas há situações de confito… é tão difícil! Conhecermo-nos e partilharmos com quem sofre connosco ou quem tem esta desordem, ajuda-nos muito.
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