O mês de Outubro traz consigo dois dias que se ligam de forma profunda, o Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado no passado dia 10 e, o Dia Internacional da Consciencialização e Sensibilização da Perda Gestacional e Neonatal, assinalado no dia 15.
A gravidez pode ser vivenciada de formas distintas e, a esta, podem associar-se expectativas, sonhos, fantasias, ilusões, projectos diversos. É nesta fase que os pais vão imaginando os seus bebés, como estes serão e como será a vida depois do seu nascimento. Para algumas pessoas, a gravidez pode representar “um começo”, seja ele de um novo projeto de vida e/ou da construção de uma nova fase do Ciclo Vital da Família. São projetadas e, mesmo, iniciadas, restruturações a nível familiar, quotidiano e financeiro, entre outros. A perspectiva da parentalidade, ainda que não se trate de um primeiro filho, tem um impacto directo nas dinâmicas da relação de casal, o que não deve ser descurado.
Contudo, por vezes, todos os planos e sonhos podem ser interrompidos de forma inesperada, brutal, abrupta e dolorosa pela ocorrência de perdas, como é o caso de uma perda gestacional. Este evento refere-se a um conjunto de situações de perda que podem suceder ao longo da gestação ou, após o parto, incluindo o aborto espontâneo, a morte fetal (nado-morto), a morte neonatal, a interrupção médica da gravidez, a interrupção voluntária da gravidez e o diagnóstico de anomalias congénitas no feto/bebé que inviabilizem a continuação da gestação.
Qualquer que seja a sua causa, a perda gestacional é uma realidade estatisticamente incontornável, dizendo respeito à perda de um filho, independentemente da fase de desenvolvimento em que o bebé se encontrava. Nos dias de hoje e, numa sociedade em que tudo acontece com demasiada rapidez, nem sempre estas perdas e o luto que lhes está associado são reconhecidos e/ou legitimados.
Devido ao seu carácter imprevisível e inesperado, a perda gestacional poderá causar um impacto assinalável na vida psicológica e física dos pais, criando dor, sofrimento, luto, medo, tristeza, ansiedade (perante a eventual perspectiva de uma nova gravidez), entre outros, que são vivenciados de formas muito particulares, sendo que estas experiências são, de facto e, inevitavelmente, idiossincráticas.
Para os pais, esta perda pode constituir uma experiência avassaladora. Existem expectativas já criadas e alimentadas, bem como a “exigência” que um reajustamento à realidade (emocional, físico, social, financeiro e espiritual) acarreta, pelo que podem surgir, também, sentimentos de culpa e fracasso. A perda poderá ter, igualmente, repercussões que transcendem o casal, como as que se estendem à família alargada e/ou amigos que terão sido parte integrante desta etapa da vida do casal. O papel e a disponibilidade destas figuras próximas e significativas podem ser, mesmo, determinantes no processo de luto.
É, ainda, muito importante, que exista um acompanhamento sólido e disponível por parte dos profissionais que estiveram ou, que poderão vir a estar, em interação direta com os pais, mantendo especial atenção à possível presença de sinais que exijam um olhar e atenção clínicos ou, um cuidado especializado e focado nas vivências do processo de perda de cada progenitor.
Assim, é indispensável estar atento aos diversos “sinais de alerta” que podem surgir e à necessidade de lhes dedicar um cuidado especializado, como o recurso a consulta de Psicologia Clínica:
- Isolamento;
- Alterações de apetite e nos padrões de sono;
- Diminuição da energia, fadiga;
- Desinvestimento significativo no autocuidado e higiene pessoal;
- Sentimento de menos valia e outros impactos no autoconceito;
- Falta de vontade para realizar atividades que, antes, davam prazer;
- Possíveis indicadores de quadros depressivos e/ou traumáticos.
O papel desempenhado por um psicólogo é fundamental no decurso de um processo de gestão de uma perda desta natureza, na medida em que é o profissional mais capacitado para acolher e empatizar com o sofrimento destes pais, promovendo uma adaptação o mais saudável possível a esta perda tão impactante.
Saúde Mental e Perda Gestacional – Que relação?
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