A depressão infantil foi reconhecida tardiamente e apenas a partir dos anos 60 do século passado a perturbação foi incluída num sistema de classificação que enfatizou o facto de a depressão nesta faixa etária apresentar diferenças relativamente aos quadros depressivos dos adultos. Até então acreditava-se que os/as pré-adolescentes eram incapazes de experienciar depressões, e os quadros depressivos que surgiam nos/nas adolescentes eram desvalorizados e justificados como uma crise própria da idade. Hoje em dia sabemos que isto não é verdade e que a depressão pode existir em todas as faixas etárias.
Assim, depressão refere-se a uma doença caraterizada pela presença de uma alteração do humor persistente e suficientemente grave para ser considerada uma “perturbação”.
Frequentemente o humor depressivo está inserido numa constelação de outros sintomas, como a anedonia (incapacidade de sentir prazer),a culpa inapropriada, a redução da autoestima e a desesperança, o cansaço ou a perda de energia, a diminuição da concentração ou da capacidade de pensar, a agitação ou a lentificação psicomotora, as alterações do sono e do apetite, os pensamentos mórbidos ou suicidários.
Esta constelação de sintomas, ainda assim, pode não constituir uma perturbação, sendo da maior importância que pais e educadores vigiem atentamente a criança ou o/a adolescente que a apresente. O que determinará a gravidade da situação serão fatores como a persistência da sintomatologia, o mal-estar clinicamente significativo, o impacto na rotina da criança ou do/a adolescente, qualquer que seja a área de funcionamento.
O quadro clínico da depressão pode, então, assumir características mais específicas de acordo com a faixa etária. Na pré-adolescência pode surgir a verbalização de sentimentos depressivos (culpa, desesperança, negativismo), embora a irritabilidade seja mais frequente que o humor depressivo. Podem também ocorrer o isolamento social, dificuldades escolares com diminuição da concentração e sintomas somáticos, como dores de cabeça. Muitas vezes, o quadro clínico pode assumir características de uma perturbação do comportamento – incapacidade para lidar com a frustração, agressividade, impulsividade.
Já na adolescência podem surgir preocupações com o próprio corpo, nomeadamente com os caracteres sexuais secundários, o acne ou o peso. As alterações do sono e do apetite podem tornar-se mais preponderantes, assim como os sentimentos de desesperança, a anedonia e a ideação suicida. É nesta idade que a avaliação do risco de suicídio se torna absolutamente premente, pois as tentativas de suicídio, neste grupo etário, podem assumir contornos de grande letalidade.
Para terminar, podemos ter presente que cerca de 2/3 das crianças ou adolescentes com perturbações depressivas melhora significativamente, mesmo que a recuperação completa se prolongue por meses ou até anos. No entanto, há também que lembrar que fatores como a gravidade da sintomatologia e a presença de comorbilidades influenciam negativamente o prognóstico, podendo a perturbação arrastar-se ou provocar consequências para a vida adulta.
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