Desde o início da pandemia de COVID-19 que as empresas começaram a ter um papel demarcado no cuidado com a saúde mental dos seus colaboradores. Passaram a reconhecer este factor como essencial para o rendimento dos seus funcionários, oferecendo-lhes, até a possibilidade de trabalhar sobre a mesma, muitas vezes sobre a forma de uma mental health allowance.
Há uma tendência cada vez maior para dar atenção a factores de saúde mental, como essenciais para o bem-estar dos trabalhadores, contudo, as empresas continuam a precisar de apresentar resultados e de obter lucro. E, por vezes, esta postura acaba por ser contrária à promoção de bem-estar.
Hoje em dia, muitas empresas tratam os seus colaboradores como atletas. Mas, será que têm os mesmos benefícios, ou as mesmas condições?
A saúde mental é uma característica necessária no desporto de alto rendimento e sabemos hoje que, as equipas mais competitivas têm um denominador comum. Trabalham num local onde as chefias os ouvem e criam as condições necessárias para que os seus atletas prosperem.
É comum no trabalho em empresas, utilizar vários chavões associados ao desporto. O trabalho tem de ter objectivos concretos, um ritmo acelerado, as equipas têm de mostrar resultados, ser as melhores. No entanto, as empresas acabam por cometer muitos dos erros associados aos grandes clubes. Não fomentam um ambiente saudável.
Aceita-se que a saúde mental tem um papel importante, olha-se para factores como a resiliência, motivação, concentração, mas não são tidos em conta quando é necessário. Não é tido em conta que um dos principais factores de sucesso passa pelo bem-estar dos colaboradores e que este nasce através da criação de um ambiente saudável.
É necessário transmitir segurança psicológica, ou seja, criar um ambiente onde os colaboradores não têm receio de falar ou cometer erros, ou se promove o diálogo aberto e a discussão de ideias, através de uma comunicação clara, concisa e empática.
Acima de tudo, talvez o factor mais importante, dar tempo aos trabalhadores para descansarem. Depois de uma sessão de treino de força, os nossos músculos passam por um processo de recuperação. Nesta fase é essencial, descansar. Normalmente há um intervalo entre a prática desportiva de pelo menos 48 horas, só a partir daí devemos voltar a trabalhar o mesmo músculo com um volume e intensidade semelhantes.
O mesmo é aplicável a um dia de trabalho. Embora o cérebro não seja um músculo, também precisa de descanso. Podemos ter um trabalho que não seja exigente a nível físico, mas chegamos a casa cansados. Se não conseguirmos criar um espaço onde podemos descansar, onde não levamos o peso do trabalho para casa, estamos a abrir caminho para problemáticas mais graves, como o burnout.
Em Março de 2021, a Indeed levou a cabo um questionário que confirmou que pelo menos mais de metade dos trabalhadores acreditavam que os sintomas de burnout agravaram durante a pandemia e, pelo menos 52% dos trabalhadores revelaram terem sofrido de burnout em 2021.
A tendência, embora crescente das empresas em actuar sobre a saúde mental, continua a ser largamente afectada pela postura contrária. Por continuar a privilegiar os resultados em detrimento do bem-estar.
Uma equipa em burnout não vai apresentar os mesmos resultados que uma equipa com elevados níveis de bem-estar, que além de se correlacionarem com maior produtividade, também se correlacionam com o aumento da eficácia, assim providenciando mais lucro à empresa.
Há, portanto, vários factores que influenciam o nosso rendimento no trabalho. Alguns sobre os quais temos controlo directo e outros, nem tanto. E com a atenção cada vez mais redobrada para a saúde mental e para a promoção do bem-estar, coloca-se uma questão fundamental: Como é que o local onde trabalha contribui para o seu bem-estar?
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