Passamos o outono e o inverno à espera das férias de verão, mas quando lá chegamos nem sempre conseguimos atingir as expetativas que durante o ano vamos criando. O conceito férias, bem como o de lazer, tornou-se, para muitos, o alcançar das expetativas. Já para não falar que, nos dias de hoje, é regra trazermos tudo fotografado e filmado, como se só assim é que as aventuras e pequenos prazeres da vida fossem verdadeiramente vivenciados e partilhados.

Cada vez mais, culturalmente, e sendo reforçado pelos mídia, ir de férias é fazer aquela viagem idílica ou, como costumamos ouvir, “é este ano a viagem dos seus sonhos”. Mas, questiono: no meio deste planeamento e pressão para cumprir as férias a que se propôs, descansou realmente?

Sem dúvida que, ao não estarmos a trabalhar, temos mais tempo para nos dedicarmos ao que gostamos, mas não estaremos a ir de férias igualmente com o “chip” de produtividade do trabalho? Ou seja, com o foco de “aproveitar tudo ao máximo”, consegue realmente recuperar as baterias de que tanto precisa?

São notáveis as sugestões de destinos isolados e no meio da natureza que nos veem alertar para esta necessidade de desligar, sem ser preciso fazer mil e uma atividades ou percorrer cidades.

Estudos realizados têm vindo a revelar que precisamos de pelo menos uma semana para conseguirmos esquecer a rotina que levamos da época de trabalho. Para além disso, parece que os homens e as mulheres não desconectam do trabalho de igual forma, dado que as mulheres precisam de mais tempo e mostram mais dificuldade em desligar.

Já olhou para as suas características particulares antes de ir de férias? Então, está na hora de o fazer, pois não basta repensarmos o significado das férias se levamos na bagagem o “mood” do escritório. É verdade que com as tecnologias, hoje podemos levar qualquer situação laboral atrás e que a competitividade e exigência do mundo do trabalho é uma realidade que pesamos na balança. No entanto, é possível que, associado a isto, sinta que não consegue dizer que não, seja por medo de perder o trabalho ou receio de não conseguir “acompanhar” quando voltar, ou, ainda, gosta de ter o controlo sobre as situações e, por isso, não há maneira de delegar as responsabilidades a outro enquanto está ausente.

Face ao já referido, é compreensível que o nosso cérebro necessite de realizar alguns ajustes cognitivos para corresponder às mudanças que ocorrem no ambiente. É aqui que o nosso córtex pré-frontal entra em ação, pois, estas funções cognitivas a que me refiro são as responsáveis pela mudança de foco, capacidade de organização e planeamento, bem como a gestão do tempo e da atenção.

Está comprovado que os indivíduos tornam-se mais capazes de tomar decisões ponderadas, após um período sem stress, por isso, explore de que forma realmente vai mais descansado de férias e crie o seu próprio work-life-balance.

Reserve algum tempo a planear o período em que vai estar fora e, após esse momento de férias, antes de regressar ao trabalho, dedique um ou dois dias para se reconectar e preparar-se para os desafios que o(a) esperam.

Este ano vamos descansar nas férias?

—
Fontes:

Bloom J, Kompier M, Geurts S, de Weerth C, Taris T, Sonnentag S. Do we recover from vacation? Meta-analysis of vacation effects on health and well-being. J Occup Health. 2009;51(1):13-25. doi: 10.1539/joh.k8004. Epub 2008 Dec 19. PMID: 19096200.

Holiday Stress and the Brain. (s.d.). Obtido de Harvard Medical School: https://hms.harvard.edu/news-events/publications-archive/brain/holiday-stress-brain

Quantos dias de férias são necessários para desconectarmos de verdade? (s.d.). Obtido de EL PAÍS | CIÊNCIA: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/05/ciencia/1467743570_571329.html