Já deu por si a desabafar com um familiar ou amigo e a resposta que ouve é: “Estás a sofrer antes de tempo!”? Ou quantas vezes criamos na nossa cabeça cenários hipotéticos que, na realidade, nunca chegam a acontecer?
Pare um bocadinho e pense, quantas vezes as suas frases não começam com “E se…”?
A boa notícia é que, fruto da experiência passada, o cérebro é capaz de criar cenários futuros, antes de qualquer ocorrência. Esta aptidão humana tem como principal objetivo preparar-nos contra as adversidades e é tanto mais precisa quanto o grau de certeza que temos desse evento futuro. Por outras palavras, a nossa ansiedade aumenta quanto menos detalhes tivermos sobre o futuro.
Aqui surge outra questão, quando falamos de futuro referimo-nos à probabilidade de as situações acontecerem ou não, isto é, o grau de certeza ou incerteza que temos. Mas estaremos nós a sofrer de ansiedade ou de medo? O medo surge quando percecionamos sinais no ambiente à nossa volta como ameaçadores, é uma reação que mobiliza o organismo em momentos de crise para fugir ou para lutar. Por outro lado, trata-se de ansiedade quando estes sinais são percebidos como imprevisíveis, incertos ou quando temos pouca informação.
É natural que no nosso dia a dia a expressão “imprevisível” seja usada como sinónimo de “incerto” e, a verdade é que são conceitos muito semelhantes. No entanto, quando falamos da imprevisibilidade de algo estamos a falar de um ponto de vista mais estatístico, a calcular a probabilidade que determinado evento tem de ocorrer, ou de se passar de determinada forma. Em contrapartida, a incerteza apresenta uma conotação mais subjetiva e sensorial sobre o estado em que alguém se encontra.
Para complicar o trocadilho de palavras, podemos referir-nos ainda à incontrolabilidade. Quando temos a certeza sobre a ocorrência de um evento e conhecimento dos seus detalhes, geralmente temos uma sensação de controlo sobre a situação, mas quando esse evento pode sofrer alterações sentimos logo que está fora do nosso controlo.
Somos ensinados desde pequenos a pensar no que pode acontecer para nos prepararmos, no entanto, com a pressão do quotidiano já o fazemos de forma tão automática que nem damos conta que podemos estar a ser os nossos próprios inimigos.
Quando sente que a sua cabeça e o seu corpo estão a ser consumidos por uma angústia referente a uma situação futura, prevê o pior e acha que não vai conseguir lidar com a situação. Os seus níveis de stress e preocupação aumentam cada vez que está mais próximo de se confrontar com essa situação. Paralelamente, sente dor no peito, inquietação, não consegue dormir, está cansado(a) e irritado(a). Sim, está a sofrer de ansiedade antecipatória.
A ansiedade é uma resposta psicofisiológica do nosso organismo, que nos ajuda a adaptar a situações potencialmente ameaçadoras para a nossa integridade física e psíquica. No entanto, quando esta resposta surge em excesso e de forma desajustada, deixa de ser benéfica para o indivíduo e, muitas vezes, torna-se desadaptativa ou até mesmo patológica.
Tendemos a evitar situações incertas porque temos expectativas elevadas das ameaças, mas talvez nunca tenhamos pensado que ao confrontarmos as situações onde esperamos resultados negativos, estamos, muitas vezes, a adquirir evidências que refutam o que esperávamos.
Uma possível forma de combatermos a diferença entre os resultados previstos e os reais, é rompermos com o padrão de pensamentos negativos. É um exercício que deve ser feito com regularidade, sempre que ganhamos consciência que este tipo de pensamentos estão a surgir. A ideia é confrontarmos os nossos próprios pensamentos com factos reais de situações pelas quais já passámos e fazer uma lista onde respondemos às seguintes questões:
Situação: ______________________________________________________________.
Qual é o pior cenário que pode acontecer: _____________________________________.
O que esperava que acontecesse: ____________________________________________.
O que realmente aconteceu: ________________________________________________.
Se mesmo assim continuar a sentir-se ansioso ou com receio das situações, convido-o(a) a procurar um profissional para apoio psicológico. Poderá ser uma mais valia para ultrapassar estados de ansiedade persistentes.
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Fontes:
Gleitman, H., Fridlund, A. J., & Reisberg, D. (2014). Psicologia. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
Grupe, D. W., & Nitschke, J. B. (Julho de 2013). Uncertainty and Anticipation in Anxiety – An integrated neurobiological and psychological perspective. Obtido de National Library of Medicine – National Center for Biotechnology Information: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4276319/
Morgado, P. (2021). Manual de Tratamento da Ansiedade. Lisboa – Portugal: LIDEL.
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Muito interessante. Obrigada
É importante assumirmos a necessidade de pedir ajuda.
A confiança nas atividades e preparação tem sido uma mais-valia
E se acontecer?
Já deu por si a desabafar com um familiar ou amigo e a resposta [...]