Positivismo Desmedido
Positivismo. Quantas vezes não ouvimos alguém dizer: “tens de ser mais positivo” ou “não podes pensar assim, tens de pensar positivo, não consegues nada se estiveres sempre assim”. Como se bastasse pensar e acreditar que algo vai correr bem para que isso aconteça.
Durante as últimas décadas temos assistido a uma tendência para encarar tudo, necessariamente, com positivismo. Mas não é um positivismo qualquer, é um que retira ao ser as suas propriedades essenciais.
Este positivismo está associado, a uma ideia ocidental levada ao extremo, a da “busca pela felicidade”. Claro que devemos sempre procurar o que nos faz felizes, mas não uma felicidade que ignore as diferentes áreas da nossa vida e nos faça comprometer e esquecer que o caminho para a mesma é muito vasto e muito subjectivo.
O positivismo, nasce com August Comte no início do século XIX, é uma corrente filosófica que tem na sua base a observação empírica das evidências. Ou seja, para os positivistas, o conhecimento científico, baseado nas evidências e comprovado através de métodos científicos válidos, é a única maneira de obter conhecimento verdadeiro. Qualquer conclusão que venha de crenças ou superstições não é válido.
Portanto, ao longo dos séculos aquilo que cresce como uma corrente que defende uma aplicação regrada de conhecimento científico, ficou reduzida ao sentido lato da palavra.
Chegámos a um ponto onde parecemos confundir positivismo, com optimismo, que pressupõe uma crença de que as coisas vão correr bem, não tendo necessariamente um fundamento na realidade.
Olhamos agora para o positivismo com a mesma lente, não como algo construído através da nossa experiência, mas como uma necessidade para existir, absorta de tudo o resto que compõe a nossa humanidade.
É um positivismo desmedido, que quebra com todas as bases do que é viver, que coloca de parte a dor, a tristeza e todas as outras características que nos assistem e formam quem somos enquanto pessoas.
A vida é a conjunção das várias vivências que nos acompanham, boas ou más, somos a soma de todas essas partes no aqui-agora e negar-nos ao que é “negativo” marca o fim da nossa experiência enquanto pessoa, porque nos nega a algo que é essencialmente humano.
Há, claro, benefícios em encontrar insights e ressignificar experiências à luz de algo mais positivo, que permita criar recursos para lidar com situações semelhantes no futuro. Muitas vezes sim, isso inclui olhar para uma vivência dolorosa e dar-lhe um significado diferente.
Podemos ser felizes e ter estado tristes para lá chegar, podemos encarar uma experiência difícil, à luz de algo novo. Mas se acharmos que temos de ser positivos e pensar em tudo de maneira positiva, ignorando as dificuldades, estamos a colocar de lado uma parte essencial de nós. Uma parte que nos permite aprender com os nossos erros e criar um sentido novo para as nossas experiências, que possa ser mais adaptado às nossas futuras necessidades.
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