O que é a compaixão? Literalmente, significa “sofrer com”. Significa que somos capazes de notar o sofrimento dos outros e que sentimos vontade de cuidar e de ajudar de alguma forma. Significa que somos capazes de oferecer compreensão e gentileza aos outros quando eles falham e erram, em vez de os julgar. E finalmente, significa que compreendemos que o sofrimento, o fracasso e imperfeição são partes da experiência partilhada por todos os seres humanos.
Contudo, este olhar compassivo que aplicamos aos outros nem sempre está presente quando olhamos para nós próprios. Quando falhamos, fracassamos ou não gostamos de algo em nós, tendemos a criticar-nos, a sermos demasiado duros na nossa avaliação e nas exigências que fazemos. Deixamos que a nossa voz interior se torne imensamente negativa, sempre focada no que está errado… Por que o fazemos, então?! Por que não somos capazes de usar a mesma perspetiva compassiva com que agraciamos os outros?!
A autocompaixão não é mais do que voltar a compaixão para nós mesmos, agindo da mesma forma em relação às nossas dificuldades. Em vez de nos criticarmos e julgarmos, a autocompaixão sugere que sejamos gentis e compreensivos quando nos confrontamos com as nossas imperfeições e fracassos. Significa que aceitamos a nossa humanidade. Significa que aceitamos que nem sempre as coisas vão correr como desejaríamos, que vamos ter perdas, que vamos encontrar obstáculos e que tudo isto faz parte da nossa condição humana, partilhada por todos nós. Quanto mais nos abrirmos a esta realidade em vez de lutar contra ela, mais capazes seremos de sentir compaixão por nós mesmos e pelos outros seres humanos na experiência da vida.
Kristin Neff, uma psicóloga americana que se tem dedicado ao tema da autocompaixão, definiu 3 elementos que a constituem:
1) Ser gentil consigo mesmo – as pessoas que sentem autocompaixão reconhecem que ser imperfeito e passar por dificuldades é inevitável, por isso, tendem a ser gentis consigo quando enfrentam dificuldades.
2) Ser humano – a autocompaixão implica reconhecer que as imperfeições, o fracasso, a vulnerabilidade e o sofrimento fazem parte da experiência humana e que todos a vivem, não sendo algo que acontece apenas a “mim”.
3) Mindfulness – a autocompaixão requer que adotemos uma postura mindful, ou seja, que pratiquemos um estado mental de não julgamento e de aceitação das nossas emoções e dos nossos pensamentos tal e qual como são, sem tentar reprimi-los nem exagerá-los. Não seria possível ignorar o nosso sofrimento, por exemplo, e ser compassivo ao mesmo tempo! Por isso, é necessário que aprendamos a olhar para o que pensamos e sentimos de forma equilibrada, de forma a que possamos alargar a perspetiva sobre a nossa situação, relacioná-la com a dos outros e assim ser mais compassivos connosco.
Estudos recentes têm demonstrado que a falta de autocompaixão é um fator de vulnerabilidade para o desenvolvimento de uma depressão e que pessoas menos autocompassivas sofrem de níveis de stress mais elevados. Aliás, parece que o papel da autocompaixão nas diferentes variáveis do bem estar só agora começa a ser pesquisado…
Desta forma, nos momentos em que estiver a ser demasiado exigente ou exageradamente crítico consigo, note no que pensa e no que sente, lembre-se que é apenas humano e pergunte a si mesmo: “Se fosse alguém que amo a estar nesta situação, o que lhe diria eu? De que forma tentaria ajudar? O que gostaria que essa pessoa fizesse?”. A “receita” não é complicada… Bastará aplicar a si mesmo a bondade e o cuidado que daria a quem ama!
Virando a compaixão para mim mesmo
O que é a compaixão? Literalmente, significa “sofrer com”. Significa [...]
A psicoterapia à distância é eficaz?
Andreia Cabral Num primeiro momento, falar de psicoterapia à distância ou de consulta [...]