Provavelmente, a ansiedade seria um conceito que não associaria naturalmente à criatividade. Mas, se o convidasse a associar os dois conceitos, muito provavelmente, iria ver a ansiedade como um bloqueio à criatividade. É verdade que níveis de ansiedade excessivos são prejudiciais e podem até mesmo deixar-nos paralisados, mas sabia que há um certo grau de ansiedade que pode ser benéfico para a nossa criatividade?
Níveis elevados de ansiedade levam a que direcionemos toda a atenção para a “ameaça” e, por isso, muitas vezes acontecem os bloqueios ou paralisamos, porque o nosso corpo “ativa” todos os recursos para lidar única e exclusivamente com a situação ansiogénica. No entanto, há momentos em que a ansiedade utiliza os nossos mecanismos cognitivos e motivacionais na direção da tarefa em causa, portanto, também pode ser benéfica para o próprio.
A imaginação é o elo de ligação entre o pensamento criativo e a ansiedade. Ela possibilita-nos não só modificar memórias e criar a nossa própria realidade, como é uma ferramenta fundamental para o pensamento criativo, no sentido de permitir uma construção voluntária e consciente da realidade. No caso da ansiedade, a imaginação é usada para criar cenários hipotéticos, geralmente negativos, que acabam por ser repetitivos e levar-nos a acreditar que as situações imaginadas irão concretizar-se. Por outro lado, a nível neurológico, a imaginação e a percepção direta da realidade “ativam” as mesmas zonas no cérebro. Assim, a capacidade de antecipar as situações pode verificar-se bastante vantajosa para a resolução de problemas.
Outrora, a criatividade é uma das muitas particularidades que distingue os seres humanos das outras espécies. Ela é um estímulo para a imaginação, permite novas experiências e conhecimentos, técnicas de resolução de problemas em qualquer campo de atuação. Por exemplo, em consultório clínico, através do desenho infantil, é uma forma de compreensão da relação da criança com o mundo.
Sabemos que a felicidade tem impacto direto na criatividade e, recentes investigações, revelam que o inverso também acontece, isto é, a criatividade está positivamente associada ao bem-estar subjetivo dos seres humanos.
Quero terminar o artigo deixando-o(a) a pensar sobre a seguinte questão: sabia que as pessoas que realizam atividades artísticas e criativas, como a música, a pintura, a escrita e outras atividades, criam ligações entre redes neuronais que costumam trabalhar de forma separada? Beaty e colaboradores (2018), investigaram a capacidade criativa a partir da conetividade do cérebro e verificaram que as pessoas criativas apresentam padrões diferentes nas conexões que criam a nível cerebral.
Afirmam, ainda, que estas conexões, quando mais fortes, estão associadas a níveis de criatividade mais elevados. Estas mesmas atividades são muitas vezes usadas como estratégias de regulação da ansiedade. Então, porque não começar a usar a escrita criativa, a pintura ou o desenho, os “quebra-cabeça” ou até a dança como seus aliados?
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Fontes:
Daker, RJ, Viskontas, IV, Porter, GF et al. (2023). Investigar ligações entre ansiedade de criatividade, desempenho criativo e ansiedade e esforço em nível de estado durante o pensamento criativo.
Tan CY, Chuah CQ, Lee ST, Tan CS. (2021). Being Creative Makes You Happier: The Positive Effect of Creativity on Subjective Well-Being. Int J Environ Res Public Health.
Beaty RE (2020). The Creative Brain. Cerebrum.
Beaty, R. E., Kenett, Y. N., Christensen, A. P., Rosenberg, M. D., Benedek, M., Chen, Q., et al. (2018). Robust prediction of individual creative ability from brain functional connectivity. Proc. Natl. Acad. Sci. U S A. 115, 1087–1092.
Grossman, FG (1981). Criatividade como forma de lidar com a ansiedade. As Artes em Psicoterapia, 8 (3-4), 185–192.
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Muito interessante a ligação da ansiedade com a criatividade. Parabéns.