Se gosta de perceber o funcionamento do mundo em geral e do seu cérebro em particular, este artigo é para si.
Hoje em dia, cada vez mais estudos demonstram o impacto do Mindfulness no nosso funcionamento cerebral e as consequências deste em diversas instâncias do nosso comportamento.
Ao longo dos últimos anos, os investigadores têm dedicado a sua atenção a encontrar relações significativas entre o acto de meditar e modificações nas atitudes, pensamentos, emoções e comportamentos de todos nós.
Um dos estudos (2011) mais impressionantes, mas ainda preliminar, demonstrou que variações na densidade de matéria cinzenta em partes do cérebro associadas à memória, sentido de si, empatia e stress sofria alterações, em pessoas que meditavam pelo menos 30 minutos por dia, durante oito semanas.
As medições, feitas antes e depois deste período de meditação, indicaram um aumento de massa cinzenta no hipocampo, uma área importante para a aprendizagem e memória. Mostraram ainda uma diminuição da massa cinzenta na amígadala, uma região do cérebro relacionada com stress e ansiedade.
Britta Hölzel, a psicóloga responsável pelo estudo explica que a meditação feita pelos participantes é Mindfulness. Nada mais nada menos que uma forma de meditação introduzida nos E.U.A. no final dos anos 70. As suas raízes são no Budismo, mas a ideia fundamental é utilizar diferentes objectos para treinar o seu foco de atenção. Poderá ser o foco nas sensações da respiração, ou pensamentos ou emoções, ou observar qualquer tipo de sensações no corpo. O objectivo é tomar consciência de que a sua mente vagueia e trazê-la para o aqui-e-agora, em vez de a deixar continuamente a vaguear. Habitualmente, quando se medita, as pessoas sentam-se direitas numa cadeira ou no chão com instruções guiadas de quem está a dinamizar a sessão.
Muito mais tem sido investigado sobre os benefícios da meditação, em 2009 um estudo verificou uma redução da tensão arterial em indivíduos que meditavam como forma de prevenir doenças coronárias e, já em 2007 se descobriu que quem medita regularmente consegue permanecer concentrado durante mais tempo.
Em 2014, uma equipa de investigadores da Universidade da Columbia Britânica e da Universidade de Tecnologia de Chemnitz conseguiram determinar várias áreas cerebrais que são consistentemente alteradas com a prática prolongada de meditação.
Uma destas áreas cerebrais é o córtex cingulado anterior (CCA). Esta estrutura está associada à autorregulação, ou seja, direcionar intencionalmente a atenção e o comportamento, suprir respostas automáticas inconvenientes, e mudar de estratégia de forma flexível. Por exemplo, pessoas que tenham sofrido lesões nesta área são mais impulsivas e agressivas e quando não fazem bem a ligação entre esta área e outras áreas do cérebro, tendem a ser muito rígidas nas suas estratégias de resolução de problemas e não ajustam os seus comportamentos quando é necessário.
Tendo isto em atenção, uma das descobertas interessantes é que as pessoas que meditam mostram um desempenho superior em testes de autorregulação e a resistir a distracções do que pessoas que não meditam.
(Fig1. Imagens antes e depois de 11 horas de treino de meditação aumenta a integridade das fibras da matéria branca)
Além da autorregulação a CCA também está associada à capacidade de aprender com experiências passadas para apoiar bons processos de tomada de decisão. Assim, face a situações que mudam inesperadamente e precisam da nossa capacidade para lidar com incerteza o reforço desta área, através da meditação, permite lidar de outra forma com os acontecimentos futuros.
(Fig. 2 Diferenças na morfologia do cérebro: Matéria branca junto ao córtex cingulado anterior/médio, (BA 32/24))
Uma segunda região cerebral importante é o hipocampo, uma das áreas que mostrou aumento de matéria cinzenta como foi visto no estudo de 2011 (hipocampo esquerdo). Esta é uma área fundamental para a nossa resiliência. Tem imensos receptores da hormona do stress – cortisol, e os estudos demonstram que pode sofrer com stress crónico, com consequências importantes para o bem-estar físico. As pessoas que sofrem de stress cónico ou depressão prolongada possuem um hipocampo estruturalmente mais pequeno.
(Fig. 3Aumento da concentração da matéria cinzenta no hipocampo esquerdo)
Todos estes estudos e descobertas estão a revolucionar a nossa forma de estar e de ser. Cada vez mais, os neurocientistas estão a demonstrar que Mindfulness afecta directamente áreas do cérebro relacionadas com percepção, consciência corporal, tolerância à dor, regulação emocional, introspecção, pensamento complexo, e sentido de si.
Sabemos que através da prática regular de Mindfulness mantemos os nossos cérebros saudáveis, para que possam regular emoções, tomar boas decisões, e proteger-nos do stress tóxico.
Para o ajudar a começar a dar os primeiros passos nesta prática desenhámos o Grupo ExperiMente Mindfulness que, ao longo dos últimos anos, tem permitido a muitas pessoas iniciarem uma prática regular de Mindfulness.
As próximas edições do Programa Experimente Mindfulness têm o seu início nos dias:
19 de Janeiro de 2016, às 18:30.
14 de Março de 2016, às 18:30
19 de Abril de 2016, às 18:30
É constituído por 6 sessões semanais, cada sessão tem um custo unitário de 25€ (120€ se pagar conjunto das 6 sessões na inscrição).
Decorre em Lisboa, Coimbra e Braga.
Se quiser saber mais ou inscrever-se, pode fazê-lo aqui
Referências:
- Britta K. Hölzel, James Carmody, Mark Vangel, Christina Congleton, Sita M. Yerramsetti, Tim Gard, Sara W. Lazar. Mindfulness practice leads to increases in regional brain gray matter density. Psychiatry Research: Neuroimaging; 191 (1): 36 DOI: 1016/j.pscychresns.2010.08.006
- Slagter, H.A, Lutz, A., Greischar, L.L., Francis AD, Nieuwenhuis S., Davis, J.M., & Davidson, J.M. (2007). Mental Training Affects Distribution of Limited Brain Resources. PLoS Biol 5(6): e138. doi:10.1371/journal.pbio.0050138.
- Tang, Y., Lua, Q., Gengc, X., Steinc, E.A, Yangc, Y, & Posnerb, M. (2014). Short-term meditation induces white matter changes in the anterior cingulate Proceedings of the National Academy of Sciences of United States of America. Vol 109, 26, 10570-10574.
- , K.C.R., Nijeboer, S., Dixon, M.L., Floman, J.L., Ellamil, M., Rumaka, S.P., Sedlmeier, P., &Christoff, K. (2014). Is meditation associated with altered brain structure? A systematic review and meta-analysis of morphometric neuroimaging in meditation practitioners. Neuroscience and Biobehavioral Reviews, 43, 48–73.
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