O Stress e a Culpa de mãos dadas para o Burnout

Tempo de Leitura: 4 min

stress-maos-dadas-burnoutO Burnout é um síndrome caracterizado por exaustão emocional, despersonalização e baixo sentido de autorrealização. O aumento dos níveis de burnout nos profissionais de saúde é uma preocupação dos sistemas de saúde a nível internacional. 

Os médicos fazem parte de uma das profissões sujeitas a elevado distress (stress excessivo) pelo que os estudos têm procurado identificar o que poderá facilitar o bem estar e a resiliência nesta profissão. A prevalência de Burnout é de 54% para todas as especialidades e de 60% para os de medicina interna. Embora possam não ser afetados em todos as dimensões os que apresentam exaustão emocional e despersonalização (frieza e distanciamento cognitivo) são na mesma considerados em estado de Burnout.

Nos internos de medicina (em período de formação pós-graduada que conduz à obtenção da especialidade) o Burnout é um problema significativo. Pode corroer o profissionalismo, reduzir a qualidade do serviço aos doentes, aumentar o risco de erros médicos, aumentar os conflitos, contribuir para o consumo de substância ou o seu abuso e aumenta o risco de depressão e ideação suicida.

Embora vários estudos refiram semelhanças de género nos níveis de Burnout é mais frequente nas mulheres a exaustão emocional e nos homens  despersonalização (distanciamento e frieza).

De uma forma geral o Burnout é considerado como a consequência de um stress profissional crónico. Há várias formas de lidar (mecanismos de coping) com as situações e estratégias particulares para situações específicas.  Estas estratégias podem ser adaptativas ou desadaptativas consoante cumprem, saudavelmente ou não, a função para que estão a ser utilizadas. Os benefícios de cada estratégia utilizada para lidar com os factores de stress profissional depende da cada situação e de cada indivíduo.

De uma forma geral os mecanismos adaptativos consistem em :

– Planeamento e resolução de situações (planeamento e active coping)

– Procura de conselhos (apoio instrumental)

– Procura de apoio emocional e conforto (apoio emocional)

– Enfrentar a realidade da situação (aceitação)

– Aceitar os aspectos positivos de uma situação de stress (reatribuição positiva)

Estratégias desadaptativas para lidar com as situações de stress profissional:

– Uso de substâncias

– Desistir de tentar resolver a situação (desinvestimento comportamental)

– Recusa em aceitar a situação (negação)

– Autocrítica, criticar a si próprio, culpar-se por coisas que aconteceram (culpabilização)

– Foco em outros aspectos que não a situação em mãos (distração)

Os dados recolhidos não são muito claros ou conclusivos quanto a se o humor (dizer piadas sobre o assunto/situação, brincar com a situação) e o ventilar as situações (expressar os sentimentos sobre a situação) são mecanismos adaptativos ou desadaptativos para lidar com o stress profissional.

Para os internos de medicina a aceitação, o planeamento e resolução de problemas, e reestruturação positiva foram correlacionados com uma menor exaustão emocional e despersonalização resultando assim como estratégias mais adequadas para lidar com o stress profissional.  A utilização de mecanismos adaptativos para lidar com o stress profissional previne o Burnout.

Estratégias de “coping” desadaptativas como o desinvestimento, a culpa, o humor, apareceram correlacionadas com maiores níveis de exaustão emocional e despersonalização e uma menor realização profissional revelou-se correlacionada com estratégias de desinvestimento e partilha de sentimentos.

As estratégias de “coping” utilizadas variam com o factor de stress e o nível percepcionado mas os estudos demonstraram que as mulheres utilizam, mais do que os homens, todas as estratégias. 

As mulheres procuram mais o apoio emocional, ruminam sobre os problemas e utilizam uma linguagem mais positiva, já os homens são mais de utilizar estratégias de evitamento. Não se verificaram diferenças significativas de género na frequência de utilização de mecanismos adaptativos de coping como a aceitação, o active coping, o planeamento ou a restruturação positiva nem diferenças significativas de género na frequência de utilização de mecanismos desadaptativos de coping como desinvestimento comportamental, negação ou autodistração ou abuso de substãncias. 

Apesar de solicitarem com mais frequência apoio emocional e instrumental para lidarem com as situações de stress profissional as internas de medicina atingem níveis de Burnout mais elevado. 

Estranho e contraintuitivo, verdade?

Constatou-se, no entanto, que as internas de especialidade, recorrem com mais frequência a uma estratégia desadaptativa, a CULPA, que reforça e aumenta o stress profissional.  Culpabilizam-se por erros cometidos ou por eventuais conflitos de forma excessiva e sobrevalorizada avaliando-se com padrões de exigência e expectativas demasiado elevadas.

As evidências de maior ruminação, de foco interno nos pensamentos sentimentos/emoções e maior insegurança são consistentes com as pesquisas que demonstraram que as mulheres utilizam mais a CULPA como mecanismo desadaptativo de coping. Têm maior tendência para se focarem em factores internos contrariamente aos homens que se focam mais em factores externos. 

A utilização de mecanismos desadaptativos de coping  deverá assim ser visto como um cartão vermelho para distress profissional. A  CULPA,  com a sua toxicidade, é um factor de risco acrescido de Burnout. O Stress e a Culpa de mãos dadas levam ao Burnout.

 

O stress faz parte da nossa vida e está presente na nossa atividade profissional. Mais do que eliminá-lo, queremos geri-lo. As estratégias adaptativas para lidar com o stress profissional protegem-nos, à nossa saúde mental e ajudam a evitar o  Burnout.

Não podemos impedir que chova, mas podemos decidir como vamos enfrentar a chuva. Enfrente as “tempestades” profissionais e escolha as boas (roupas) estratégias para a sua SAÚDE. 

Conte connosco para a escolha do melhor “fato”.

Cristina Sousa Ferreira

JOURNAL OF WOMEN’S HEALTH Volume 25, Number 11, 2016 ª Mary Ann Liebert, Inc. DOI: 10.1089/jwh.2015.5604

Cristina Sousa Ferreira
Cristina Sousa FerreiraPsicóloga Clínica

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