Sabe o que anda a ler?
Um livro pode mudar a forma como pensamos, agimos e até como vemos o mundo. No entanto, “há livros e livros”, e se é verdade que nem todos têm de utilizar evidência científica, ajuda sempre se se basearem num conhecimento teórico e técnico, e não apenas na experiência pessoal do autor e ou em ideias do senso comum. Esta ideia é especialmente verdade na escrita dos famosos “livros de autoajuda”, cuja função é incentivar as pessoas a modificar comportamentos e/ou pensamentos por si próprias – uma ideia atrativa, mas que pode facilmente ser uma armadilha.
Apresento três exemplos destas armadilhas.
A primeira, e talvez a mais perigosa, é quando os autores fornecem apenas as suas opiniões ou “conselhos”, baseados em pensamentos do senso comum, meias-verdades, informações falsas ou ideias controversas cujo único objetivo é chamar a atenção do leitor, para comprar o livro e ler mais. Estas opiniões revelam-se, muitas vezes, não só infundadas, como potencialmente danificadoras a quem as siga no seu dia-a-dia.
Um segundo exemplo de armadilha comum nestes livros é serem “inúteis” para quem os compra. Isto acontece quando o autor relembra o leitor de coisas que ele já sabia, partilha conhecimento geral ou sugere soluções demasiado vagas para serem aplicadas no dia-a-dia, de forma eficaz, como por exemplo: devemos fazer exercício, comer melhor, ser mais positivos, etc. Tudo isto são ideias ou ações que sabemos que devemos seguir, mas não nos indicam por onde começar as mudanças, levando muitas vezes à inação ou tentativas de mudança de curta duração, frustradas e sem efeito, causando consequentemente a sensação de frustração.
Por fim, há o caso de livros que podem até dar boas indicações, aplicáveis à vida real e que façam sentido aos leitores, no entanto, não equacionam as dificuldades em iniciar um processo de mudança significativo. O livro é lido, mas nada efetivamente muda nas rotinas de quem o lê.
Estes livros denominados de autoajuda, quando bem redigidos, têm um lugar na nossa estante, mas o grande problema é quando promovem soluções demasiado generalista, ignorando a realidade das pessoas que os compram, oferecendo informação como se fosse uma “poção mágica”, que muda automaticamente a nossa vida e resolve os nossos problemas com uma simples leitura. Seguir esse caminho irá inevitavelmente acabar em frustração, pois é uma perspetiva tendencialmente irrealista e difícil de concretizar.
As pessoas que recorrem à Oficina de Psicologia, vêm ter connosco, muitas vezes, em sofrimento, perdidas ou reconhecendo que há algo na sua vida que gostariam de mudar mas, por diversas razões, não o estão a conseguir fazer sozinhas. O papel da nossa equipa é acompanhá-las neste processo de transformação, durante o qual podemos e recomendamos artigos ou livros que auxiliem o que fazemos em consultório, não substituindo, mas complementando a nossa intervenção.
Desta forma, ajudamos a compreender, desenvolver e utilizar estratégias para chegar aos objetivos pretendidos. Também nesse sentido, trabalhamos diariamente na elaboração de artigos informativos, ações formativas, colaboração na escrita de livros e articulação com diversas instituições para garantir que os melhores cuidados de saúde mental chegam ao maior número de pessoas.
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