Bipolaridade2017-04-02T08:33:51+01:00

O QUE É A PERTURBAÇÃO BIPOLAR?

Para muitos, a expressão “bipolaridade”, ou “perturbação bipolar” será pouco familiar. Se falarmos em perturbação maníaco-depressiva, a sua designação menos actual, muitos mais a conhecerão. Seja através de filmes, séries, livros ou contacto pessoal, a perturbação bipolar é figura frequente no nosso imaginário colectivo ou mesmo experiência de vida. Nesse contexto, pode dizer-se que figura no elenco de “bichos-papões” associados à saúde mental. Muitas vezes, é vista como uma condição que condena quem dela sofre a um estado de quase-loucura equiparável apenas ao da esquizofrenia, que não tem tratamento e será uma eterna incapacidade, caracterizado por uma montanha-russa emocional – ora num estado de euforia quase imparável e insuportável para quem com ela lida, ora na mais profunda melancolia e depressão. Aparece associada ao olhar esgazeado de um pico positivo (episódio maníaco) capaz da maior generosidade, mas também de imprudência e até violência, assim como ao rápido declínio para o pico negativo, uma depressão tão profunda que frequentemente conduz ao suicídio. Ainda assim, não são poucas as descrições de grandes artistas e cientistas que eram bipolares, e cujos picos positivos lhes deram o “empurrão” para a fama e a glória. Na verdade, a perturbação bipolar não será tão monstruosa quanto as suas caracterizações mais pessimistas a pintarão, nem tão romântica e inócua quanto nos pode fazer crer a obra deixada por grandes homens e mulheres que dela padeceram.

Independentemente da avaliação de gravidade que se possa fazer dela, a perturbação bipolar tem consequências bem reais na vida de quem dela sofre. As relações com os outros podem tornar-se um pesadelo. As oscilações de humor conduzem ora a conflitos, ora a retracção, causando frequentemente que as pessoas queridas se afastem por não compreenderem o que se passa com a pessoa e não conseguirem lidar com isso. Torna-se, também, difícil manter um emprego. Quando existe um pico, seja positivo seja negativo, a produtividade no local de trabalho sofre variações muito grandes, e a capacidade de tomar decisões fica grandemente afectada. No seio da família, é frequente a confusão e o medo. A alegria inesperada tem potencial para gerar surpresa, bem como conflitos e decisões repentinas com consequências graves, assim como os picos negativos afastam os membros da família e lançam nuvens sobre o ambiente familiar, sendo que a alternância entre estes dois pólos pode ser uma combinação explosiva. E se os picos positivos podem levar a gastos irresponsáveis, comportamentos sexuais de risco e situações de perigo para o próprio (pela ausência do medo), os picos negativos podem conduzir a estados depressivos profundos que, no limite, conduzem a tentativas de suicídio. A taxa de suicídio entre pessoas com perturbação bipolar, de acordo com as informações mais recentes, situa-se entre os 10 e os 15%.

Por todas estas consequências, a perturbação bipolar tem vindo a ser alvo de cada vez mais atenção.

De facto, a perturbação bipolar é uma das perturbações mentais mais actuais no seio da discussão científica, e tem sofrido grandes avanços na forma como se define. É de uma complexidade extrema, sendo um dos mais difíceis diagnósticos em saúde mental. Embora haja manifestações muito fortes e evidentes da perturbação, são muito frequentes manifestações mais moderadas que podem passar despercebidas. O que a distingue, acima de tudo, é a presença de sintomas “maníacos”. Sendo a mania uma palavra familiar, falamos aqui de algo muito diferente da “mania das limpezas”, da “mania de dizer mal” ou da “mania de embirrar”. Falamos de sintomas como uma disposição anormalmente expansiva, positiva ou irritável, da redução de necessidade de dormir, de um aumento desmedido e repentino da auto-estima, que frequentemente roça a grandiosidade, de picos de intolerância à crítica à frustração, de períodos de produtividade excessiva e inesperada, de um discurso “saltitante”, acelerado e pouco coerente, de distractibilidade aumentada, ou mesmo de comportamentos de risco como gastos excessivos, picos de promiscuidade sexual, ou a ausência de percepção de perigo. Durante um pico maníaco, sentimo-nos os reis do mundo, como se nada nos pudesse tocar. Durante um pico positivo, nem todos estes sintomas estarão presentes. Nem todos eles estarão facilmente evidentes, e igualmente intensos. Aquilo que sabemos é que estes se agrupam nesta perturbação, e é muito frequente alternarem com estados depressivos (ver secção “Depressão”) e com momentos de normalidade, em que tudo está como esteve antes de surgir a perturbação. Estes momentos podem variar na sua duração e no tempo que decorre entre cada um deles. E este é um dos aspectos que torna difícil o diagnóstico. Apesar desta dificuldade, a maioria dos estudos tem vindo a estimar que cerca de 1% da população mundial possa sofrer desta perturbação. A idade habitual de aparecimento da perturbação bipolar situa-se na casa dos 20 anos, início dos 30. No entanto, estudos recentes têm vindo a apontar um número crescente de casos na adolescência.

 

BIPOLARES: 1 E 2

Existem dois tipos de perturbação bipolar:

Bipolar I – diagnosticada quando a pessoa teve, pelo menos, um episódio maníaco ou misto, normalmente com um episódio de depressão major. Afecta uma proporção idêntica de homens e mulheres, aproximadamente 0.4 a 1.6% da população.

Bipolar II – diagnosticada quando a pessoa teve um episódio de depressão major com, pelo menos, um episódio hipomaníaco. Afecta maior número de mulheres do que homens, em cerca de 0.5% da população.

Face a este quadro, é provável que dê por si a reconhecer pelo menos alguns destes sintomas em pessoas que conheça, ou de quem tenha ouvido falar. E é natural que se pergunte de onde, afinal, vem esta perturbação. O que sabemos é que esta é uma perturbação que tem forte influência genética, sendo mais frequentes os casos de perturbação bipolar em famílias onde existe um historial de bipolaridade. Ou seja, na raiz da perturbação estão factores psicológicos, mas também uma grande influência da forma como o nosso organismo, particularmente o nosso cérebro, trabalha. Estes dois factores actuam em conjunto para produzir os sintomas que conhecemos. Se, por um lado, esta informação pode tornar a perspectiva do tratamento assustadora pela sua complexidade, por outro permite-nos identificar um número maior de recursos e intervenções de que dispomos para combater a perturbação bipolar. Olhemos, então, para os meios que temos ao nosso dispor.

CICLOTIMIA

O que é ciclotimia?

Uma forma mais suave mas mais duradoura da perturbação bipolar. Durante pelo menos dois anos a pessoa apresentou muitos períodos de sintomas hipomaníacos (sem chegar a critérios de episódio maníaco), alternando com muitos períodos de sintomas depressivos (sem chegar a critérios de episódio de depressão major). Na prática, o humor alterna entre uma mania menos grave e uma depressão menos grave.

As fases hipomaníacas surgem como experiências bastante boas, para quem as vivencia. O estado de humor aligeira-se, a pessoa sente-se mais sociável e extrovertida, mais enérgica e com uma maior auto-estima. Surgem-lhe ideias novas com facilidade e a pessoa sente-se motivada a agir e a produzir, com maior poder e, por vezes, omnipotente.

No entanto, a alternância de humor prejudica-lhe o bem-estar e o desempenho das tarefas regulares da sua vida – ora bem, ora mal, dificilmente consegue manter uma actuação estável e previsível, afectando, igualmente, aqueles que a rodeiam.

A ciclotimia parece afectar igualmente mulheres e homens, começando normalmente na adolescência ou início da idade adulta e tende a ser uma condição crónica. Existe um risco entre 15 a 50% de, sofrendo-se de ciclotimia se desenvolver a perturbação bipolar.

BIPOLAR OU CICLOTÍMICO?

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Perturbação bipolar

Um documento que explica em profundidade a perturbação bipolar, critérios de diagnóstico, diagnóstico diferencial e impacto na vida de quem sofre desta condição.

Perturbação bipolar

Perturbação bipolar

Apresentação bipolar

Perturbação bipolar

Apresentação que serve de base e conduz ao longo do dia de formação em Perturbação Bipolar da Oficina de Psicologia. Adequada a psicólogos.

Perturbação bipolar

Apresentação bipolar

SOLUÇÕES PSICOTERAPÊUTICAS

Um dos aspectos a que é importantíssimo atender quando lidamos com a perturbação bipolar é que, pela sua natureza, é uma perturbação que se caracteriza por frequentemente dar origem a recaídas. Seja pela dificuldade em manter a regularidade na toma medicamentosa, seja pela forma como se manifesta na nossa biologia cerebral, um dos aspectos da definição desta perturbação que reúne unanimidade é a sua recorrência ao longo da vida. O que contribui grandemente para o impacto que tem na vida de quem sofre de perturbação bipolar gerando, frequentemente, ansiedade relativamente ao futuro, baixa auto-estima, relutância em assumir compromissos de longo prazo e uma grande instabilidade no contexto familiar. Sabemos hoje que, cada vez mais, a perturbação bipolar é controlável. Um grande parte de garantir esse controlo passa por assegurar a prevenção da recaída e, particularmente, a adesão ao tratamento. Vejamos, então, de que forma procuramos controlar a perturbação bipolar.

Esta área de intervenção é uma das que mais beneficia de um trabalho próximo entre médico psiquiatra e psicólogo. A evidência da raiz biológica e hereditária da perturbação bipolar tem suscitado muita investigação médica. Actualmente, a Medicina dispõe de medicamentos que permitem um controlo cada vez maior da sintomatologia quer maníaca, quer depressiva, com um grau cada vez menor de efeitos secundários e transtorno para o consumidor. O grande obstáculo que se coloca a este tratamento prende-se com a adesão às recomendações médicas. Uma das principais causas de recaída prende-se com a descontinuação da toma medicamentosa. A estabilização confunde-se frequentemente com a cura, e são frequentes as desistências. A competência para delinear este tipo de tratamento reside por inteiro no psiquiatra. No entanto, é importante assegurar que há continuidade no tratamento, evitando a recaída, ao mesmo tempo que é necessário desenvolver competências para lidar com a perturbação a vários níveis: na vivência pessoal, emocional de quem dela sofre; no contexto social e profissional em que se insere; e na vida familiar. Daqui decorre a enorme importância de um trabalho em estreita colaboração entre o psiquiatra que prescreve o medicamento e nós, psicólogos, que procuramos desenvolver estas competências.

Se reconhece um número significativo de sintomas de bipolaridade ou ciclotimia em si, ou em alguém que lhe é próximo, não hesite. Procure ajuda, ou incentive de quem gosta a procurá-lo. A perturbação bipolar não tem que ser uma sentença de infelicidade eterna, e a ajuda está bem mais perto do que possa pensar.

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