Chegou a altura mais esperada do ano, as férias! À medida que pensamos sobre o que fazer neste período é normal aceder às redes sociais e observar a diversidade de publicações de seguidores a fazerem viagens pelo mundo, a passearem pela praia ou a divertirem-se com os amigos. E de repente, é como se fossemos transportados para um mundo onde é tudo emocionante e extremamente gratificante. E, no meio destas sensações, já deve ter sentido que as outras pessoas podem estar a viver uma vida mais feliz que a sua.
Mas será que esta perceção é real ou apenas uma ilusão criada pelas redes sociais? Será que as publicações representam a realidade? Ou será que representam momentos escolhidos cuidadosamente para serem partilhados?
Sabia que fazermos constantes comparações pode afetar o nosso bem-estar? A procura de uma vida perfeita e emocionante com base nas redes sociais pode conduzir-nos à ansiedade, baixa auto-estima e à insatisfação com a própria vida.
Cohen (2013) definiu The Fear of Missing Out (FOMO) como a preocupação de que as outras pessoas possam estar a viver uma vida mais interessante e agradável, especialmente quando acreditamos que as experiências dos outros são melhores do que as nossas (Buglass et al., 2017). Com o aumento da utilização das redes sociais tornou-se comum cairmos nas armadilhas das comparações sociais, aumentando os níveis de FOMO e a sensação de insatisfação com as nossas experiências.
Afinal, diante das vidas aparentemente emocionantes e gratificantes que vemos nas redes sociais, podemos facilmente sentirmo-nos descontentes com as nossas próprias vidas.
Durante o período de férias, este sentimento e a comparação social podem tornar-se desafios significativos para o bem-estar emocional, tais como:
1. Ansiedade e insatisfação: A constante comparação com os outros pode conduzir-nos à ansiedade e à sensação de que as férias não estão à altura das expectativas. Isto pode resultar num sentimento de insatisfação e frustração, prejudicando a capacidade de aproveitar o momento presente.
2. Sobrecarga de atividades: Para evitar sentir que está a perder algo, poderá envolver-se em excessivas atividades durante as férias, que pode levar à exaustão, stress e falta do verdadeiro descanso.
3. Desconexão e falta de autenticidade: O FOMO pode fazer com que se concentre mais em capturar e compartilhar os momentos experienciados, em vez de vivê-los plenamente. Tal pode desencadear uma desconexão do presente e à falta de autenticidade nas experiências.
As redes sociais são uma plataforma que proporciona uma vitrine seletiva acerca das vivências dos seguidores, porém é crucial ter em mente que nem sempre retratam a realidade de forma precisa. Durante o período de férias, o uso das redes sociais pode levar a um aumento da comparação social, do sentimento de FOMO e, por conseguinte, da ansiedade (Franchina et al.,2018).
Com o objetivo de aproveitar melhor as férias e evitar os efeitos negativos do FOMO através das redes sociais, sugiro a aplicação de três estratégias:
1. Esteja ciente dos seus próprios sentimentos de FOMO e ansiedade. Reconheça que as redes sociais podem mostrar apenas uma parte da realidade e que é normal ter momentos de descanso e desconexão.
2. Estabeleça limites nas redes sociais: Reduza o tempo que passa nas redes sociais e defina limites claros para a utilizar. Esta estratégia pode auxiliar na diminuição das comparações acerca das férias e experiências de vida.
3. Foque-se no autocuidado, concentre-se em si. Priorize atividades que promovam o bem-estar emocional e físico, como exercícios físicos, meditação, hobbies e momentos de relaxamento.
O Fear of Missing Out (FOMO) é uma sensação comum e inevitável que todos experimentamos em algum momento das nossas vidas. No entanto, é essencial lembrar que a procura contínua por quantidade de experiências pode encobrir o valor das mesmas. É a qualidade das nossas vivências que verdadeiramente importam.
As maiores alegrias da vida muitas vezes são encontradas nos momentos mais simples, compartilhados com aqueles que genuinamente nos conhecem e nos amam. É nesses instantes de conexão significativa que encontramos verdadeira satisfação e realização.
Tendo em conta a influência das redes sociais e a tentação de comparar as nossas férias e experiências com as dos outros, é importante lembrar que cada um de nós tem uma jornada única e que não é obrigatório seguir os padrões estabelecidos pela sociedade. Ao abraçar os momentos preciosos com aqueles que nos cercam e ao valorizar a autenticidade das nossas próprias experiências, podemos transcender o FOMO e encontrar contentamento genuíno no nosso percurso.
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Referências:
Buglass, S.L.; Binder, J.F.; Betts, L.R.; Underwood, J.D.M. Motivators of online vulnerability: The impact of social network site use and FOMO. Comput. Hum. Behav. 2017, 66, 248–255.
Cohen C (2013) FoMO: Do you have fear of missing out. The Telegraph, 16.
Gupta M, Sharma A. Fear of missing out: a brief overview of origin, theoretical underpinnings and relationship with mental health. World J Clin Cases. 2021;9(19):4881-4889.
Franchina, V., Vanden Abeele, M., Van Rooij, A. J., Lo Coco, G., & De Marez, L. (2018). Fear of missing out as a predictor of problematic social media use and phubbing behavior among Flemish adolescents. International journal of environmental research and public health, 15(10), 2319.
Neumann, D. (2020). Fear of missing out. The international encyclopedia of media psychology, 1-9.
Kuss, D. J., & Griffiths, M. D. (2017). Social networking sites and addiction: Ten lessons learned. International journal of environmental research and public health, 14(3), 311.
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