Com o surgimento da pandemia vimo-nos obrigados a conviver com uma nova realidade, a liberdade passou a estar condicionada, algo que nunca tinha acontecido antes. Momentos de restrições sociais e preocupações acerca do futuro passaram a estar presentes no dia-a-dia. Tudo isto nos leva a questionar, que impacto o vírus Covid-19 e o isolamento terão na nossa saúde mental?
A ansiedade e a depressão foram as perturbações que se intensificaram mais com a pandemia, principalmente nos adolescentes e jovens adultos. As preocupações com o futuro, o isolamento social, as incertezas, as notícias com foco nas mortes por covid-19 e a sensação de falta de controlo tornaram-se frequentes, aumentando os sentimentos de solidão. Para os indivíduos socialmente ansiosos, este afastamento trouxe um alívio rápido da sintomatologia, embora o medo da avaliação negativa continuasse a estar presente durante a pandemia, sentiram que as medidas de distanciamento físico ajudaram a manter os outros a uma distância social mais segura, promovendo assim uma sensação de conforto (Jolie T.K. Ho & David A. Moscovitch, 2020).
Pós pandemia foram realizados alguns estudos para entender melhor o impacto na saúde mental. Num estudo realizado com 929 participantes portugueses, permitiu observar que 26,9% apresentaram sintomas de ansiedade, 7% de depressão e 20,4% ambas as perturbações, sobretudo após o início da pandemia (Aguiar et al., 2021). Outro estudo recente realizado com a comunidade Norte Americana, foi possível verificar que os indivíduos com sintomatologia ansiosa face a eventos e avaliações sociais, sentem-se mais solitários e com um aumento do receio da avaliação negativa por parte dos outros, mas ao mesmo tempo, após o surgimento do Covid-19, realizaram mais esforços para se manterem conectados com as pessoas mais próximas e com quem se sentem mais confortáveis, provavelmente devido a uma maior necessidade de apoio social (Jolie T.K. Ho & David A. Moscovitch, 2020).
Ambos os estudos salientam o que tenho observado em consulta, os clientes que apresentavam ansiedade social antes do surgimento da pandemia acabam por se sentir aliviados pela diminuição do contacto e das interações sociais. Estas são cada vez mais reduzidas existindo quase sempre a possibilidade de interação através dos meios digitais, falar por mensagens de texto e conversas por chamada, sem a presença/confronto físico. Os contactos presenciais existentes são na maioria das vezes com pessoas de segurança, com quem se sentem mais confortáveis e em ambientes com menos pessoas. Ou seja, durante a pandemia houve uma sensação de melhoria, devido à ausência de contactos presenciais, mas, por outro lado, um esforço para estar perto das pessoas mais próximas, havendo progressivamente uma maior abertura para a exposição social face às situações que causam desconforto. A justificação para este acontecimento, possivelmente resulta da necessidade de apoio social relacionada com a solidão sentida durante este período.
Uma reflexão importante a ter em conta no pós-pandemia é o desafio enquanto terapeutas, em conseguirmos preparar os nossos clientes a encararem um futuro “novo normal” em que a exposição, a comunicação e contacto físico voltarão a estar presentes no dia-a-dia. O medo da exposição que a pandemia conforta, poderá trazer consequências futuras. Haverá uma maior exposição à qual as pessoas já não estão familiarizadas e quando o contacto físico voltar a estar mais presente, como é que as pessoas com ansiedade social irão lidar com a nova mudança?
O primeiro passo, se sofre de ansiedade social, consiste em reconhecer este desconforto sentido antes, durante e após o evento social e iniciar um processo terapêutico.
Apresento três estratégias, trabalhadas em terapia, que podem ajudar a diminuir a ansiedade social:
- Falar sobre os sentimentos e partilhar experiências, quer seja com amigos, familiares ou através da escrita, de forma a conseguir lidar com as emoções, sentimentos e pensamentos frequentes, com o objetivo de diminuir os sintomas de ansiedade;
- Criar uma rotina de relaxamento, quer seja por meio do relaxamento muscular e respiratório ou, através do exercício físico para aliviar os sintomas da ansiedade;
- Em terapia, identificar eventos sociais que causam desconforto. Começando, em primeiro lugar com a tarefa mais simples e, colocando em último a mais complexa, que causa mais ansiedade. Após a realização da lista, tente colocar em prática e expor-se às situações de forma gradual, respeitando o ritmo de cada pessoa, sendo o processo terapêutico fundamental para a melhoria dos sintomas.
Referências:
Aguiar, A., Maia, I., Duarte, R., & Pinto, M. (2021). The other side of COVID-19: preliminary results of a descriptive study on the COVID-19-related psychological impact and social determinants in Portugal residents. Journal of Affective Disorders Reports, 7, 100294. https://doi.org/10.1016/j.jadr.2021.100294
Jolie T.K. Ho & David A. Moscovitch. (2020). Effects of Pre-Existing Social Anxiety on Mental Health Outcomes During the COVID-19 Pandemic. Department of Psychology and Centre for Mental Health Research and Treatment, University of Waterloo, 34.
Wiederhold, B. K. (2020). Using Social Media to Our Advantage: Alleviating Anxiety during a Pandemic. Cyberpsychology, Behavior, and Social Networking, 23(4), 197–198. https://doi.org/10.1089/cyber.2020.29180.bkw
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Excelente. Ajudou-me a compreender o impacto na ansiedade.
Muito bem escrito e muito interessante
Artigo muito interessante para a nova realidade .
Bem escrito
Bem escrito, com exemplos e estratégias que facilitam a compreensão do tema e ajudam a diminuir a ansiedade
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